ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

mãos, se passasse por um funcionário diplomático. A chanceler alemã disse que as
observações não contribuíam em nada para a situação e apelou ao primeiro-ministro para que
fossem tomadas medidas apaziguadoras. Em particular, falou aos seus chefes de agência de
espionagem que tinha quase certeza do envolvimento dos israelenses.
A sofisticação da operação levou muitos alemães da polícia e dos serviços de
segurança a concordarem com a chanceler, embora não existissem evidências para apoiar essa
suposição. Um ministro do Interior frustrado afirmou, furioso, a seus assistentes mais
próximos que só podiam ser os israelenses, porque nenhum outro país no mundo tinha agentes
perspicazes o suficiente — ou, para falar a verdade, desonestos o suficiente — para sequer
conceber uma operação desse tipo. Sabiamente, os assessores do político o aconselharam a
deixar isso de fora de sua próxima declaração à imprensa.
A polícia alemã se dedicou por completo à busca do iraniano desaparecido. Eles
varreram o país de leste a oeste, das montanhas da Bavária até as praias cinzentas e rochosas
do mar Báltico. Procuraram nas grandes e pequenas cidades, fizeram contato com suas fontes e
informantes dentro da grande comunidade alemã de islamistas radicais, vigiaram todos os
telefones e e-mails que pudessem fornecer alguma pista. Porém, após 24 horas, não obtiveram
resultado algum. Naquela noite, o ministro do Interior informou ao embaixador iraniano que,
até onde a polícia alemã sabia, seu colega tinha desaparecido. Não era verdade, é claro. Eles
estavam apenas procurando no lugar errado.
No extremo norte da Dinamarca, há uma minúscula península onde o mar do Norte e o
Báltico colidem numa guerra sem fim. Na costa do Báltico, a areia é plana e deserta, mas, no
outro lado, ela forma dunas varridas pelo vento, onde fica a pequena aldeia de Kandestederne.
No verão, o lugar se enche de dinamarqueses em férias, porém, no resto do ano, parece que foi
abandonado após alguma praga.
Nos limites da aldeia, escondida no sopé de uma grande duna, havia um belo chalé de
madeira com a ampla varanda voltada para o mar. Contava com quatro quartos, uma cozinha
bem ventilada cheia de apetrechos de aço inoxidável e duas salas mobiliadas no estilo
minimalista dinamarquês. Também existia uma adega no porão, que o Departamento de
Acomodações transformou numa cela à prova de som. Dentro, estava o homem que a polícia
alemã buscava com tanto desespero — vendado, amordaçado, só com as roupas de baixo,
tremendo violentamente de frio. Em 24 horas, não recebera nada para comer nem beber; só lhe
deram uma pequena dose de tranqüilizante para mantê-lo quieto. Ninguém tinha falado com
ele. Até onde sabia, Massoud fora abandonado a uma morte lenta e agonizante por inanição.
Era uma punição merecida. O destino, no entanto, escolhera outro rumo para ele.
O passo seguinte da jornada de Massoud começou após 26 horas no cativeiro, quando
Mikhail e Yaakov o escoltaram até a sala de jantar. Depois de prendê-lo com firmeza numa
cadeira de metal, eles removeram a venda e a mordaça. O iraniano piscou rápido várias vezes
antes de examinar as paredes. Estavam cobertas por fotografias ampliadas de suas obras: as
ruínas dos quartéis dos fuzileiros navais em Beirute, a carroceria queimada de um ônibus em
Tel Aviv, os destroços do centro comunitário judeu em Buenos Aires. Ele fez uma expressão
de incredulidade, mas, ao olhar o homem sentado à sua frente, se encolheu de medo.
— Estava esperando outra pessoa? — perguntou Gabriel com calma, falando inglês.

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