ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

mudaria rapidamente se ele descobrisse que Gabriel levara um homem como Massoud Rahimi
ao seu país.
Portanto, no decorrer do segundo dia, eles aumentaram aos poucos a pressão sobre a
presa. O som ficou mais alto; a água, mais fria; as ameaças sussurradas no ouvido de
Massoud, mais apavorantes. Quando ele pediu por comida e bebida, lhe ofereceram uma tigela
de areia e o encharcaram com um balde de água do mar. Dormir seria impossível, garantiram,
a menos que ele cooperasse.
Lentamente, a cada hora que passava, a força de Massoud diminuía, assim como sua
determinação a resistir. E, o que era mais importante, ele se deu conta de que aquele infeliz
episódio poderia não terminar com sua morte; talvez houvesse um acordo. Mas como
convencê-lo a aceitar a mão estendida? E quem a estenderia, em primeiro lugar?
— Por que eu? — perguntou Lavon, incrédulo.
— Porque você é a pessoa menos ameaçadora nesta casa — explicou Gabriel. — E
porque você não tocou nem um dedo nele.
— Eu não interrogo pessoas. Eu só as sigo.
— Você não precisa perguntar nada, Eli. Apenas deixe ele saber que eu estou disposto
a negociar um acordo generoso.
Lavon passou cinco minutos a sós com o monstro.
— Como foi?
— Fora a parte em que ele ameaçou me matar, achei que foi bem de acordo com o
esperado.
— Quanto tempo vamos dar para ele?
— Uma hora deve bastar.
Eles deram duas.
Da vez seguinte que foi escoltado para o tribunal improvisado, Massoud tremia
incontrolavelmente e seus lábios estavam azuis devido ao frio. Gabriel pareceu não reparar.
Ele tinha os olhos fixos no arquivo aberto na mesa à sua frente.
— Soubemos que durante seu tempo em Berlim você não foi honesto ao gerenciar os
fundos operacionais do VEVAK — falou Gabriel. — É claro que isso não nos preocupa. Mas
sentimos que é nosso dever relatar esse fato aos seus superiores em Teerã. Quando o fizermos,
receio que eles desejem sua liberação. Só que por razões não relacionadas ao seu bem-estar.
— Mais mentiras judias — retrucou Massoud.
Gabriel sorriu e passou a recitar uma série de números de contas e valores
correspondentes.
— São todas contas legítimas usadas para propósitos legítimos — afirmou Massoud,
calmo.
— Então você não teria objeções se falássemos sobre elas ao VEVAK?
— Eu não trabalho para o VEVAK.
— Sim, você trabalha, Massoud. E isso significa que você tem como sair desta
situação — Gabriel fez uma pausa. — Se estivesse em seu lugar, eu usaria esse recurso.
— Talvez eu não seja tão prolixo quanto você, Allon.
— Ah — disse Gabriel, sorrindo você me reconheceu, afinal.

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