— Seu rosto tende a aparecer nos jornais. Gabriel virou uma página do arquivo.
— Você está enfrentando acusações sérias, Massoud. Como você se declara?
— Inocente.
— Como você se declara?
— Inocente.
— Como você se declara? Silêncio...
Gabriel ergueu os olhos.
— Como você se declara, Massoud? — perguntou gentilmente.
— O que você quer de mim?
— Quero que você responda a algumas perguntas.
— E depois?
— Se você me disser a verdade, será solto. Se mentir para mim, vou dizer aos seus
superiores em Teerã que você andou roubando dinheiro deles. E aí eles vão meter uma bala na
sua cabeça.
— Por que eu deveria confiar em você?
— Porque, neste instante, eu sou seu único amigo no mundo. O iraniano não respondeu.
— Como você se declara, Massoud?
— O que você quer saber?
32
Kandestederne, Dinamarca
Eles lhe deram um banho quente sob a mira de uma arma e o vestiram num agasalho
azul e branco extragrande para acomodar seu porte volumoso. Um prato de comida o
aguardava na sala de jantar, junto com uma xícara de chá persa adocicado. Apesar de estar
faminto e de não ter recebido nenhum utensílio além de uma inofensiva colher de plástico, ele
conseguiu comer com dignidade.
— Nada para você? — perguntou, gesticulando em direção ao lugar vazio na mesa em
frente a Gabriel.
— Eu não conseguiria comer até o final.
— Não seja tão crítico, Allon. Nós dois somos profissionais.
— Você é um assassino.
— Você também.
Gabriel olhou para Yaakov e a comida foi removida. Massoud não demonstrou raiva.
— Primeira regra de interrogatórios, Allon: não deixe o prisioneiro afetá-lo
emocionalmente.
— Segunda regra, Massoud: não irrite o interrogador.
— Eu gostaria de fumar.
— Não.
— Então talvez você seja gentil o suficiente para me permitir rezar.
— Se for necessário.