ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Quando esse ataque vai ocorrer?
— Pouco depois do pôr do sol.
— O alvo?
— A sinagoga Stadttempel e o centro comunitário. Se os terroristas forem bem-
sucedidos, mais de cem pessoas podem ser mortas esta noite. Mas, por outro lado, se
trabalharmos em conjunto... — A voz de Gabriel se perdeu, deixando o pensamento
inacabado.
— Sim?
— Só os quatro terroristas morrerão.
— Nós não concordamos em trabalhar com você, Herr Allon. E certamente não vamos
nos engajar em uma operação de assassinato seletivo.
— Quando eu terminar de explicar a ameaça, você vai se dar conta de que não há
alternativa.
— Talvez você possa fazer a gentileza de nos revelar a fonte de sua informação.
— Regra número um ao trabalhar com o Escritório: não faça perguntas demais.
Os pouco ortodoxos comentários iniciais de Gabriel deixaram sua audiência sem
palavras. Quando ele transmitiu a informação que lhe fora dada por Massoud, os austríacos
ofegaram, sem querer acreditar. Gabriel entendia muito bem a reação, pois naquele instante
quatro membros do Hezbollah estavam enfurnados num apartamento na Koppstrasse, número
34, preparando-se para executar um dos piores ataques terroristas na história da Áustria. Cada
membro da célula estaria armado com uma pistola semiautomática e um colete com dezenas de
quilos de explosivos e estilhaços. Eles usariam as armas para subjugar os seguranças que
vigiavam o complexo durante as cerimônias. Com os guardas neutralizados, a equipe se
dividiria: dois homens para a sinagoga, dois para o centro comunitário localizado do outro
lado da rua estreita. Eles pretendiam se detonar ao mesmo tempo. Allahu Akbar.
— Por que não entrar no apartamento e prendê-los agora? — perguntou Kessler.
— Porque eles não são amadores dos cortiços muçulmanos do Europa Oriental, mas,
sim, terroristas treinados do Hezbollah que começaram sua carreira lutando contra o exército
israelense no sul do Líbano.
— O que isso significa?
— Que eles estão preparados. Se você tentar entrar naquele apartamento, vão detonar
os explosivos. A mesma coisa vai acontecer se você tentar evacuar o prédio discretamente ou
prendê-los a qualquer momento a caminho de sua viagem ao paraíso.
— E por que não cancelar as cerimônias desta noite?
— Nada nos deixaria mais felizes. Mas se os terroristas chegarem e encontrarem a
sinagoga fechada, eles vão buscar outro alvo. Naquele horário, tenho certeza de que vai ser
fácil achar algo. Acredito que eles seguiriam para a Kárntnerstrasse para matarem tantos
austríacos inocentes quanto possível.
Gabriel estava se referindo ao movimentado bulevar que ia da Ópera Estatal até a
catedral Stephansdom. Coração econômico e social de Viena, a rua era tomada por cafés,
estabelecimentos exclusivos e lojas de departamentos. Numa noite de sexta-feira, um ataque
naquela região seria devastador. Jonas Kessler estava ciente disso, claro, o que explicava sua

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