expressão aturdida. Quando enfim voltou a falar, sua voz não carregava mais o sarcasmo de
antes. Gabriel chegou a detectar um quê de gratidão.
— O que você está sugerindo, Herr Allon?
— Receio que haja apenas um plano possível.
— Qual?
— Nós esperamos os terroristas se aproximarem da sinagoga e declararem suas
intenções. E então os abatemos antes que eles se detonem.
— Matá-los?
Gabriel não respondeu. Shamron e Navot permaneceram calados.
— Nós temos uma unidade tática policial muito bem-treinada, que certamente está à
altura dessa tarefa.
— Einsatzkommando Cobra — interveio Shamron. — Mais conhecidos como EKO
Cobra.
Kessler assentiu.
— É para esse tipo de situação que eles são treinados.
— Com todo o respeito, Herr Kessler, quando foi a última vez que um membro da EKO
Cobra atirou no ponto da cabeça equivalente ao tronco encefálico de um terrorista, para
impedi-lo de detonar uma bomba com uma contração involuntária dos dedos?
Kessler ficou em silêncio.
— Foi o que pensei — disse Shamron. — Por acaso você se lembra de quando a EKO
Cobra foi formada, Herr Kessler?
— Pouco depois do massacre nas Olimpíadas de Munique.
— Correto — falou Shamron. — E eu estava lá naquela noite, Herr Kessler. Nós
imploramos aos alemães para que nos deixassem conduzir a operação de resgate na Base
Aérea Fürstenfeldbruck, mas eles recusaram. Eu tive que escutar os gritos de meus cidadãos
enquanto eles eram massacrados. Foi... — Sua voz sumiu, como se ele estivesse pensando na
palavra apropriada. Por fim, completou: — Foi inacreditável.
— As pessoas que vão entrar naquela sinagoga hoje à noite são cidadãos austríacos.
— Isso é verdade — concordou Shamron. — Mas eles também são judeus, o que
significa que nós somos seus guardiões. E nós vamos garantir que eles saiam vivos.
34
VIENA
O debate foi encerrado e ambos os lados começaram a estabelecer um acordo
operacional. Em poucos minutos, eles tinham o esboço de um contrato. Gabriel e Mikhail
cuidariam de matar os terroristas e a EKO Cobra, da vigilância. Por insistência de Kessler, os
austríacos se reservavam o direito de agirem contra os muçulmanos a qualquer momento antes
de sua chegada ao Bairro Judeu, se a oportunidade se apresentasse. Caso contrário, eles
tinham ordens de dar amplo espaço de manobra à equipe do Hezbollah — ou, nas palavras de
Shamron, eles deveriam escoltá-la silenciosamente até as portas da morte. Gabriel facilitou o