ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

trabalho dos austríacos revelando a Kessler a exata rota que os terroristas fariam até a
sinagoga e os bondes que tomariam. Kessler ficou impressionado. Ele sugeriu que Gabriel
usasse uma cafeteria na Rotenturmstrasse como posto de preparação. Gabriel sorriu e disse
que usaria o estabelecimento vizinho.
— Por quê?
— A vista é melhor.
— Quando exatamente você esteve em Viena pela última vez?
— Não lembro.
Restavam apenas as regras de combate. Nesse ponto não houve espaço para debate.
Gabriel e Mikhail não agiriam até que os terroristas sacassem suas armas — e se eles
matassem homens desarmados, seriam processados de acordo com as mais rígidas leis
austríacas, além de quaisquer outras leis que Kessler fosse capaz de conceber. Gabriel
concordou com a medida e até mesmo assinou um documento preparado às pressas. Depois de
acrescentar seu próprio nome, Kessler distribuiu vários minirrádios pré-configurados na
freqüência que as equipes da EKO Cobra usariam naquela noite.
— Armas? — perguntou Kessler.
— Ainda é um pouco cedo para mim — respondeu Gabriel.
Kessler franziu a testa.
— Suas informações são bem precisas — comentou ele. — Vamos torcer para que
estejam certas.
— Costumam estar. É assim que sobrevivemos numa vizinhança perigosa.
— Você vai me dizer quem é sua fonte?
— Isso só complicaria as coisas.
— Suponho que não haja qualquer relação com aquele diplomata iraniano
desaparecido.
— Que diplomata desaparecido?
Já era quase meio-dia. Shamron deu o cartão magnético de um quarto de hotel no Innere
Stadt para Gabriel e lhe recomendou que descansasse por algumas horas. Allon ainda queria
inspecionar o campo de batalha à luz do dia, portanto percorreu a Kärntnerstrasse, sendo
seguido sem muita discrição por dois palermas do serviço de Kessler. Nas ruas da
Stephansplatz, uma multidão comemorava a Quaresma. Gabriel cogitou entrar na catedral para
ver um retábulo que tinha restaurado, mas mudou de idéia e atravessou as tendas coloridas, se
dirigindo para o Bairro Judeu.
Antes da Segunda Guerra, o emaranhado de ruas e becos estreitos constituíra o centro
de uma das comunidades judaicas mais vibrantes e notáveis do mundo. No auge, chegou a
comportar 192 mil pessoas, mas, em novembro de 1942, havia apenas sete mil. O restante
fugira ou fora morto nos campos de concentração da Alemanha nazista. Mas o Holocausto não
foi o primeiro ataque maciço sofrido pelos judeus vienenses. Em 1421, toda a população judia
foi queimada, batizada à força ou expulsa quando uma onda cruel de assassinatos rituais tomou
a cidade. Era como se os austríacos às vezes se sentissem compelidos a massacrar judeus.
A Stadttempel era o coração do Bairro Judeu. Construída no começo do século XIX,
quando um decreto do imperador José II passou a exigir que locais de cultos não católicos não

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