ficassem à vista do povo, ela foi erguida atrás de uma fachada de casas antigas numa pequena
via de pedras chamada Seitenstet— tengasse. Durante a Noite dos Cristais — o levante
organizado contra os judeus que varreu a Alemanha e a Áustria em novembro de 1938 —, as
sinagogas de Viena foram incendiadas sem que os bombeiros esboçassem uma reação. Mas
não a Stadttempel. Um incêndio ali teria destruído as estruturas vizinhas, assim as multidões
tiveram que se contentar em destruir as janelas e vandalizar o glorioso santuário. Foi o único
local de oração judaico da cidade inteira que sobreviveu àquela noite.
Gabriel se aproximou da sinagoga pela mesma rota que os terroristas usariam à noite.
Ao pôr do sol, a maior parte dos fiéis estaria reunida do lado de dentro, mas sem dúvida
haveria algumas pessoas amontoadas ao redor da entrada. Protegê-las de danos colaterais
seria o principal desafio. Gabriel e Mikhail teriam que ser extremamente rápidos e precisos.
Allon calculou que eles teriam apenas dois segundos para agir depois que os terroristas se
identificassem — dois segundos para imobilizar quatro terroristas experientes. Não era o tipo
de coisa que podia ser ensinada numa sala de aula ou num estande de tiro. Exigia anos de
treinamento e prática, e mesmo assim um instante de hesitação poderia fazer a diferença entra
a vida e a morte, não só para os alvos do ataque como também para os dois agentes.
Gabriel ficou na rua até memorizar cada rachadura e pedra e, então, seguiu para uma
pitoresca praça com diversos restaurantes. Era lá que ficava o restaurante italiano onde ele
fizera sua última refeição com Leah e Dani e, na rua adjacente, o local onde seu carro tinha
explodido. Gabriel ficou parado por um bom tempo, paralisado pelas lembranças. Tentou
controlar os pensamentos, mas não conseguiu. Era como se tivesse contraído a doença
implacável de Leah. Algo tocou seu cotovelo. Ele se virou bruscamente e viu o rosto
maquiado de uma austríaca idosa. Gabriel calculou sua idade. Era outro raciocínio automático
incontrolável.
— O senhor está perdido? — perguntou ela em alemão.
— Sim — respondeu Gabriel, sendo sincero.
— Aonde está indo?
— Café Central — disse ele, sem hesitar.
Ela apontou para o sudoeste, em direção ao Hofburg. Gabriel seguiu em frente até sair
da vista da mulher. Em seguida, deu meia-volta e andou até a catedral. O hotel onde o
Escritório tinha reservado um quarto para ele ficava na rua seguinte. Ao entrar, Gabriel viu
Yaakov e Lavon tomando café no saguão. Ele os ignorou e procurou o recepcionista, para
avisar que subiria a seu quarto.
— Sua esposa chegou há pouco tempo — informou o homem.
Gabriel sentiu um nó no estômago.
— Minha esposa?
— Sim. Alta, cabelos escuros compridos, olhos escuros.
— Italiana?
— Muito.
Gabriel conseguiu respirar de novo. Ele passou por Yaakov e Lavon sem dizer uma
palavra e seguiu para o quarto.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1