ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

Pendurado na maçaneta, havia um aviso de NÃO PERTURBE. Gabriel passou o cartão
magnético e entrou sem fazer barulho. O chuveiro estava ligado e Chiara cantava no banho.
Seu tom era melancólico e a voz, baixa e sensual. Gabriel foi até a cama, onde uma muda nova
de suas próprias roupas fora posta numa pilha organizada. Ao lado, se encontravam um
silenciador, uma caixa de munição, um coldre de ombro e uma Beretta calibre 45, maior que a
9 milímetros que ele preferia, mas necessária para um tiro rápido e letal. As balas de ponta
oca ajudariam a diminuir as chances de danos colaterais, pois não tinham tanto poder de
penetração e não atravessariam o corpo. Gabriel carregou dez no pente e o inseriu na pistola.
Em seguida, enroscou o silenciador na ponta do cano e estendeu o braço, verificando a
estabilidade da arma.
— O que você acha que pessoas normais fazem quando vêm a Viena? — perguntou
Chiara.
— Tomam café e ouvem música.
Gabriel baixou a pistola e olhou para a esposa. Ela estava recostada no batente da
porta vestindo um roupão de banho, o rosto corado pelo calor do banho.
— Eu achei que tinha falado para você ficar em Jerusalém.
— Você falou.
— Então por que você está aqui?
— Eu não queria que você tivesse que voltar para cá sozinho.
Gabriel tirou o pente e soltou o silenciador.
— Por que você está fazendo isso? — indagou ela.
— Porque os austríacos nunca lidaram com uma situação como essa antes. E, mesmo se
tivessem lidado, eu não estaria disposto a confiar neles quando se trata de vidas judias.
— Essa é a única razão?
— Por que mais eu faria isso?
Chiara sentou na beira da cama e o observou com atenção.
— Você parece péssimo — constatou.
— Obrigado, Chiara. Você está linda, como sempre.
Ela ignorou o comentário.
— Eu não sei como foi aquela noite, mas tenho uma boa noção — falou Chiara. —
Você a revive nos sonhos com mais freqüência do que imagina. Eu ouço tudo. Ouço você
chorando sobre o corpo de Dani. Ouço você dizendo a Leah que a ambulância vai chegar logo.
Ela ficou em silêncio e enxugou uma lágrima da bochecha.
— Mas, às vezes, não é assim que acontece — continuou. — Aí você mata os
terroristas antes de eles conseguirem detonar a bomba. Leah e Dani ficam ilesos.
Você segue sua vida, feliz. Sem explosão. Sem funeral. — Ela fez uma pausa. — Sem
Chiara.
— É só um sonho.
— Mas é como você queria que as coisas tivessem acontecido.
— Você está certa, Chiara. Eu queria que Dani não tivesse morrido naquela noite. E eu
queria que Leah...

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