— Eu não o culpo, Gabriel — interrompeu-o Chiara. — Eu sabia disso quando me
apaixonei por você. Eu sempre soube que só teria parte do seu coração. O resto sempre
pertenceria a Leah.
Gabriel se aproximou e tocou o rosto dela.
— O que isso tem a ver com esta noite?
— Você tem razão, Gabriel: é só um sonho. Matar aqueles terroristas hoje não vai
trazer Dani de volta. E não vai fazer Leah voltar a ser como antes. O que pode acabar
ocorrendo é você ser morto na mesma cidade em que seu filho.
— As únicas pessoas que vão morrer hoje são os terroristas.
— Talvez. Ou talvez você cometa um erro e eu saia de Viena sem marido. — Ela sorriu
involuntariamente. — Não seria poético?
— Eu não sou um poeta. E não vou errar.
Ela respirou fundo, desistindo da discussão, e prendeu o roupão com firmeza sobre os
seios.
— Você teria lugar para mais uma pessoa na sua equipe hoje?
Gabriel a encarou, inexpressivo.
— Achei que sua resposta seria essa. — Chiara tomou a mão dele. — Como eu vou
saber, Gabriel? Como eu vou saber se você está vivo ou morto?
— Se você ouvir explosões, vai saber que estou morto. Mas se ouvir sirenes... — Ele
deu de ombros.
— O quê?
— Vai estar tudo terminado. — Gabriel beijou-lhe os lábios e sussurrou: — E aí nós
vamos para casa e continuamos nossa vida, felizes.
Gabriel tomou um banho e tentou dormir, mas não conseguiu. Sua mente estava repleta
de memórias e seus nervos, fragilizados demais pela ansiedade. Ele ficou deitado em silêncio
ao lado de Chiara, vendo o dia escurecer e ouvindo a comunicação no rádio que Kessler lhe
dera. A EKO Cobra tinha estabelecido um posto de observação em frente ao apartamento na
Koppstrasse e, se valendo de uma câmera termográfica, confirmara a presença de pelo menos
quatro pessoas no interior dele. Equipes adicionais da unidade tática estavam posicionadas
em vários pontos desde a rua até o Innere Stadt. Os terroristas seguiriam um corredor polonês,
que os levaria direto para as armas de Gabriel e Mikhail.
O sol se pôs às 18h12. Às 16h30, Gabriel tomara duas xícaras de café — o suficiente
para deixá-lo alerta, mas não para fazer com que suas mãos tremessem — e vestira jeans azuis
desbotados e um pulôver escuro de lã, o uniforme do soldado da noite trazido de Jerusalém
por Chiara. Ele carregou a Beretta, colocando-a no coldre de ombro. Enquanto Chiara o
observava, praticou repetidamente o saque da arma e o disparo de dois tiros em rápida
sucessão, sempre inclinando um pouco a mira para cima.
Quando se sentiu preparado, guardou a arma e pôs a jaqueta de couro. Tirou a aliança e
a deu para Chiara. Ela não perguntou a razão; não era necessário. Em vez disso, o beijou pela
última vez e tentou não chorar durante sua partida. Chiara ficou sozinha diante da janela, o
rosto banhado de lágrimas, rezando para que mais tarde ouvisse sirenes.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1