ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

sinagoga estava prestes a ser atacada e passou uma série de instruções. Os seguranças
imediatamente entraram nos escritórios do centro comunitário judeu, deixando para Yaakov e
Oded a vigilância da rua. Lavon, um antigo membro daquela comunidade, cobriu sua cabeça
com um quipá e adentrou a sinagoga. Velhos hábitos perduram, pensou, mesmo em tempos de
guerra.
Como sempre, havia um pequeno grupo de fiéis espalhado pelo saguão. Lavon passou
no meio deles e se viu no belo santuário oval. Ao olhar para a seção feminina, ele viu rostos
iluminados pelas velas acesas entre as colunas jônicas. Os homens se acomodavam em seus
assentos no nível inferior. Quando Lavon passou por eles e subiu na bimah, várias cabeças se
voltaram, surpresas. Alguns sorriram. Fazia muito tempo que não o viam.
— Boa noite, senhoras e senhores — começou Lavon, sua voz calma e agradável. — É
bem possível que alguns de vocês se lembrem de mim, mas isso não importa agora. O
importante é que todos vocês devem deixar o santuário pela porta dos fundos da forma mais
rápida e silenciosa possível.
Lavon tinha esperado um debate talmúdico sobre a necessidade de tal procedimento, ou
mesmo se era algo possível de se fazer no sabá. Ele observou, maravilhado, os congregantes
se levantarem e seguirem suas instruções ao pé da letra. No fone de ouvido, uma voz em
alemão disse que os agentes do Hezbollah haviam feito a transferência para o trem número 3,
com destino ao Innere Stadt. Ele consultou o relógio: eram 18h05. Estavam bem no horário.
No final da Rotenturmstrasse, a poucos metros das margens do Donaukanal, há um café
chamado Aida. O toldo e a fachada são cor-de-rosa, fazendo dele a cafeteria mais feia de
Viena. Em outro período da vida, de posse de outro nome, Gabriel costumava trazer seu filho
até o local quase todas as tardes para um sorvete de chocolate. Naquele momento, ele
compartilhava uma mesa com Mikhail Abramov. Quatro membros da EKO Cobra estavam
sentados perto, tão discretos quanto um outdoor da Times Square. Gabriel tinha as costas
viradas para a rua, o peso da Beretta calibre 45 puxando seu ombro. Mikhail tamborilava na
mesa, agitado.
— Por quanto tempo você pretende fazer isso? — perguntou Gabriel.
— Até ver os quatro rapazes do Hezbollah.
— Está me dando dor de cabeça.
— Você vai sobreviver. — Os dedos de Mikhail continuaram batucando. — Eu não
queria soltá-lo.
— Massoud?
Mikhail assentiu.
— Eu dei a minha palavra.
— Ele é um assassino.
— Mas eu não sou. Nem você.
— E se ele mentiu? Aí você não precisa manter sua promessa.
— Se quatro homens-bomba do Hezbollah aparecerem naquela rua em alguns minutos
— falou Gabriel, indicando a vitrine —, vamos saber que ele falou a verdade.
Mikhail voltou a tamborilar.

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