ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Talvez não seja necessário matá-lo — disse ele, pensativo. — Talvez esquecê-lo
seja suficiente.
— Como assim?
— Yossi e os outros poderiam deixar Massoud acorrentado na casa na Dinamarca.
Alguém encontraria o esqueleto.
— Uma displicência fingida? É isso que você está sugerindo?
— Acontece.
— Ainda seria assassinato.
— Não, não seria. Seria morte por negligência.
— Não acho que haja diferença.
— Exatamente. — Mikhail abriu a boca para continuar, mas viu que Gabriel prestava
atenção no rádio.
— O que foi?
— Eles estão saindo do trem.
— Onde?
— Na Stephansplatz.
— Bem onde Massoud disse que sairiam.
Gabriel anuiu.
— Ainda acho que deveríamos matá-lo.
— Você quer dizer esquecê-lo.
— Isso também.
— Não somos assassinos, Mikhail. Trabalhamos na prevenção de assassinatos.
— Tomara que sim. Caso contrário, vão ter que nos tirar da rua com pinças.
— É melhor ter pensamento positivo.
— Eu sempre prefiro focar no pior resultado possível.
— Por quê?
— Motivação — explicou Mikhail. — Se eu imagino um rabino preparando meu
cadáver para o enterro, fico mais motivado a fazer meu trabalho direito.
— É só esperar até as armas aparecerem. Não podemos matar ninguém até ver as
armas.
— E se eles não sacarem as armas? E se eles simplesmente se explodirem na rua?
— Pensamento positivo, Mikhail.
— Sou um judeu vindo da Rússia. Pensamentos positivos não são da minha natureza.
A garçonete colocou a conta na mesa. Gabriel deu uma nota de 20 e falou para ela ficar
com o troco. Mikhail olhou de relance para os quatro homens da EKO Cobra.
— Eles parecem mais nervosos do que nós.
— Devem estar.
Mikhail voltou o olhar para a rua.
— Você já pensou no que vai fazer depois?
— Vou dormir por vários dias.
— Lembre-se de desligar o telefone.
— Essa é a última vez, Mikhail.

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