ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

Gabriel e Mikhail apertaram um pouco o passo, reduzindo ainda mais a distância.
Quando os terroristas passaram pelo feixe de luz de um poste, Gabriel notou o fio de um
detonador correndo pela parte interna do pulso de Alef. Os quatro homens tinham os casacos
bem abotoados e, não por coincidência, as mãos direitas estavam enfiadas nos bolsos.
Saquem, pensou. Dois segundos, talvez menos. Alef, Bet, Gimel, Dalet...
Gabriel olhou rapidamente por cima do ombro e viu a equipe da EKO Cobra seguindo
em silêncio atrás deles. Yaakov e Oded conseguiram colocar a maior parte das pessoas para
dentro, mas alguns fiéis vagavam pela rua, incluindo as duas crianças. Mikhail respirou fundo
várias vezes para tentar diminuir os batimentos cardíacos, mas Gabriel não se deu o trabalho
de fazer o mesmo. Não seria possível. Não naquela noite. Ele encarou a mão direita de Alef,
seu coração batendo no peito como um tambor, e esperou que a arma surgisse. Mas quem a viu
foi uma das crianças, um menino. Seu grito de medo impulsionou Gabriel.
Não haveria explosão.
Não haveria o funeral.
Apenas dois anjos caídos correndo para a frente com os braços estendidos.
Dois segundos, talvez menos.
Alef, Bet, Gimel, Dalet...
Estava tudo terminado.
Chiara não ouviu os tiros, apenas as sirenes. Sozinha em seu quarto, ela pensou que era
o som mais belo que já ouvira em toda a sua vida. Ficou escutando por um bom tempo, até que
pegou o celular e ligou para Uzi Navot, no Ministério do Interior. Mal pôde ouvir a voz dele
por cima do ruído de fundo.
— O que está acontecendo?
— Terminou.
— Alguém ficou ferido?
— Só os vilões.
— Onde ele está?
— Os austríacos estão com ele.
— Eu o quero de volta.
— Não se preocupe — disse Navot. — Agora ele é todo seu.


36


Viena — Tel Aviv — Vaticano
Como boa parte das mentiras, não era muito convincente. Shamron não viu problemas
nisso. Na verdade, ele aprovou completamente. Mentir, afirmou, era algo humano, mesmo
quando praticado por profissionais. E uma mentira que fosse dita com facilidade demais não
seria muito convincente.
No começo, houve certa confusão quanto ao que acontecera durante o pôr do sol na rua
estreita do lado de fora da Stadttempel. Os primeiros relatos na rádio austríaca falavam de
dois homens armados que tinham matado quatro judeus no que parecia um ato de violência da

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