— Eu concordo — disse Donati, sorrindo. — Mas não serei eu.
Os Jardins do Vaticano estavam tomados pela escuridão quando Gabriel saiu do
Palácio Belvedere. Ele passou pela Fonte do Sacramento e pelo Colégio Etíope, seguindo
para o local onde diversos guardas suíços em roupas civis se mantinham posicionados como
estátuas, junto ao muro da cidade. Gabriel foi adiante sem dizer uma palavra e subiu uma
escadaria de pedra até alcançar o terraço. Pietro Lucchesi, também conhecido como papa
Paulo VII, esperava ali sozinho. Roma se agitava lá embaixo — a empoeirada, eterna Roma.
Gabriel nunca se cansava de observá-la. Nem o Santo Padre.
— Eu me lembro da primeira vez que viemos para este lugar juntos — comentou o
Santo Padre. — Foi depois dos problemas com a Crux Vera. Você salvou meu papado, para
não mencionar minha vida.
— Era o mínimo que poderíamos fazer, Santidade — falou Gabriel, contemplando a
cúpula da Grande Sinagoga de Roma, do outro lado do Tibre. Por um instante, ele imaginou
Pietro Lucchesi em cima da bimah, dizendo palavras que nunca tinham saído dos lábios de um
pontífice até aquele dia: "Por estes pecados, e por outros que em breve serão revelados,
oferecemos nossa confissão e imploramos Seu perdão..."
— Vossa Santidade foi muito corajoso naquele dia.
— Não teria sido possível sem você. Mas meu trabalho não está concluído no que diz
respeito a curar as feridas entre nossas duas fés, e por essa razão é essencial que eu faça essa
viagem para Jerusalém.
— Ninguém deseja sua ida a Israel mais do que eu.
— Mas...?
— Não acreditamos que seja seguro neste momento.
— Então faça o que quer que seja necessário para tornar seguro. Pois, a meu ver, a
questão está resolvida.
— Sim, Santidade.
O papa sorriu.
— Isso é tudo, Gabriel? Eu esperava mais argumentação.
— Eu não gostaria de discutir regularmente com o vigário de Cristo.
— Ótimo. Pois eu desejo que você sirva como meu guarda-costas pessoal durante a
viagem.
— Eu ficaria honrado, Santidade. Afinal, é um papel que já interpretei antes.
— Com sucesso considerável.
O Santo Padre sorriu enquanto sua batina era agitada pelo vento. O ar já não era mais
invernal; cheirava a pinho e terra quente. Sua Santidade pareceu não notar. Ele estava
claramente preocupado com questões mais sérias do que a mudança das estações.
— É verdade que Cario Marchese tem algo a ver com a morte daquela pobre garota do
museu? — perguntou ele.
Gabriel hesitou.
— Algo errado, Gabriel?
— Não, Santidade. Mas talvez seja melhor se...
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1