mesquita. Darwish não informou sua existência nem à Autoridade de Antigüidades de Israel
nem às Nações Unidas. Só sabiam do lugar o imã e alguns trabalhadores que juraram segredo.
Entrar num túnel tão antigo no meio da noite deixaria alguns homens apreensivos, mas
não Darwish. Na infância, ele tinha passado incontáveis horas explorando as cavernas e
passagens ocultas do Nobre Santuário. Aquela descia num ângulo traiçoeiramente íngreme por
centenas de metros antes de o terreno se nivelar. Depois seguia em linha reta por cerca de 400
metros e subia num ângulo agudo. Arfando após a árdua caminhada, Darwish escalou devagar
a escada de mão até o alçapão de madeira no topo. Ao abri-lo, ele se viu no quarto de um
apartamento em Silwan, um bairro no leste de Jerusalém, adjacente à Cidade de Davi. Numa
parede, havia um pôster de um famoso jogador francês de futebol; em outra, uma fotografia de
Yahiya Ayyash, o grande fabricante de bombas do Hamas conhecido como "Engenheiro".
Darwish abriu o armário. Dentro, estavam os "Alcorões" que o Sr. Farouk mencionara em sua
mensagem: centenas de quilos de detonadores e explosivos potentes que foram
contrabandeados pelo Hezbollah e pelo Hamas através da fronteira egípcia e levados a Israel
por tribos beduínas. Havia mais em outra parte de Silwan. Muito mais.
Darwish fechou a porta do armário, saiu do quarto e atravessou os cômodos estreitos
do apartamento até chegar a uma minúscula sacada com vista para o vale do Cédron. No lado
oposto, acima dos imensos muros cor de mel feitos de pedra, havia dois imensos domos, um
de prata e o outro de ouro.
— Allahu Akbar — disse o imã em voz baixa. — E que Ele tenha piedade de minha
alma pelo que vou fazer em Seu nome.
38
Vaticano
Durante a semana seguinte, a vida turbulenta de Gabriel se acomodou numa rotina
agradável, embora reclusa. Como o flat na Via Gregoriana não podia mais ser usado, ele se
refugiou num pequeno apartamento clerical dentro do Palácio Apostólico. Ele acordava cedo
todo dia, tomava o café da manhã com as freiras que cuidavam do lar do Santo Padre e ia ao
laboratório de conservação, onde passava algumas horas trabalhando no Caravaggio. Antonio
Calvesi, o restaurador-chefe, raramente se afastava da pequena gruta de trabalho de Gabriel.
No segundo dia, ele enfim reuniu coragem para perguntar sobre a razão de sua ausência.
— Eu estava visitando uma tia doente.
— Onde?
— Em Palm Beach.
Calvesi franziu a testa, descrente.
— Há rumores de que você vai acompanhar il Papa em sua peregrinação à Terra Santa.
— Eu prefiro chamá-la de Israel — disse Gabriel, tocando seu pincel com suavidade
no lustroso manto vermelho de João Evangelista. — E, sim, Antonio, eu irei com ele. Mas não
se preocupe: terminarei o Caravaggio quando voltarmos.
— Quanto tempo?