ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Por que não?
— Porque se alguém estiver tentando matar o Santo Padre, eu não vou ter tempo de
proteger meus olhos e ouvidos.
Metzler pendurou um alvo na linha e o levou até uma distância de 20 metros.
— Mais longe — pediu Gabriel.
— Até onde?
— Até o fim.
Metzler obedeceu. Gabriel ergueu a arma na posição triangular clássica de tiro e
disparou as quinze balas nos olhos, no nariz e na testa do alvo.
— Nada mal — admitiu o comandante. — Vamos ver se você consegue fazer isso de
novo.
Metzler colocou outro alvo no final do estande enquanto Gabriel recarregava a arma.
Ele a esvaziou em segundos. Dessa vez, em vez de quinze buracos espalhados pelo rosto,
havia apenas um único buraco grande no centro da testa.
— Meu Deus — disse Metzler.
— Arma de qualidade — disse Gabriel.
Ao meio-dia, Gabriel escapava do Vaticano na traseira do sedã oficial de Donati e ia
até a embaixada israelense para se inteirar das informações coletadas diariamente no King
Saul Boulevard. Quando sobrava tempo, ele voltava ao laboratório para mais algumas horas
de trabalho. Às sete da noite, ele ceava com Donati e o Santo Padre na sala de jantar papal.
Gabriel sabia que não teria sentido voltar a falar da questão da segurança, portanto aproveitou
a oportunidade para ajudar a preparar Sua Santidade para o que seria uma das viagens ao
exterior mais importantes de seu papado. O Secretariado de Estado, mais ou menos o
equivalente ao Ministério do Exterior no Vaticano, tinha escrito uma série de declarações
previsivelmente seguras para o papa fazer nas diversas paradas em Israel e nos territórios sob
a autoridade palestina. Mas a cada dia ficava mais claro que o Santo Padre pretendia
reformular de forma radical o relacionamento tenso entre a Santa Sé e o Estado judeu. A
viagem seria mais que apenas uma peregrinação: seria a culminação de um processo que o
papa iniciara quase uma década antes, com seu ato de contrição na Grande Sinagoga de Roma.
Na última noite, Gabriel escutou Sua Santidade discorrer sobre os comentários que
pretendia fazer no Yad Vashem, o museu e memorial do Holocausto em Israel. Depois, Donati,
inquieto, insistiu em acompanhar Gabriel até seu apartamento. Um desvio os levou a uma das
portas que conduzia à Capela Sistina. Donati hesitou antes de girar a maçaneta.
— Acho que é melhor você entrar sem mim desta vez.
— Quem está lá dentro, Luigi?
— A única pessoa no mundo que pode dar a Cario o castigo merecido.
Verônica Marchese estava atrás do altar com os braços cruzados em posição defensiva,
contemplando O Último Julgamento. Ela não desviou o olhar enquanto Gabriel se aproximava
em silêncio.
— Você acha que vai ser parecido com isso? — perguntou ela.
— O fim?
Verônica assentiu.

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