ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Nunca pensaria em fazer isso. Estava apenas me perguntando como você pôde
escolher um homem como ele depois de ter se apaixonado por Luigi.
— Você não sabe muito sobre as mulheres, certo?
— É o que me dizem.
O sorriso dela foi genuíno. E logo desapareceu enquanto ela listava as razões pelas
quais tinha se casado com Cario: ele era lindo, interessante, rico.
— Mas Cario não era Donati — completou Gabriel.
— Não, só existe um Luigi. E eu o teria todo para mim se não fosse por Pietro
Lucchesi.
O tom de voz era amargo, ressentido, como se Sua Santidade fosse responsável pelo
fato de ela ter se casado com um assassino.
— Provavelmente foi melhor — arriscou Gabriel.
— Luigi ter voltado para o sacerdócio?
Ele assentiu.
— É fácil para você dizer isso, Sr. Allon. — Ela acrescentou com suavidade: — Não
era você que estava apaixonado por ele.
— Ele está feliz aqui, Verônica.
— E o que vai acontecer quando eles tirarem o Anel do Pescador do dedo de Lucchesi
e colocarem seu corpo na cripta embaixo da basílica? O que Luigi irá fazer? — Ela respondeu
à própria pergunta: — Imagino que ele vá ensinar direito canônico por alguns anos numa
universidade pontifícia e passar os últimos anos de sua vida numa casa de repouso cheia de
padres velhos. Tão solitário... Tão terrivelmente triste e solitário...
— É a vida que ele escolheu.
— Foi escolhida para ele, assim como a sua. Vocês dois são muito parecidos, Sr.
Allon. Deve ser por isso que se dão tão bem.
Gabriel a encarou por um instante.
— Você ainda o ama, não é?
— Eu não quero responder a essa pergunta. Ao menos não aqui. — Ela voltou o rosto
para o teto. — Você sabia que Claudia ligou para meu escritório na Villa Giulia na noite em
que morreu?
— Às 20h47.
— Então imagino que você também saiba que ela ligou para outro número um minuto
antes.
— Eu sei disso. Mas nós nunca conseguimos identificá-lo.
— Eu poderia ter ajudado.
Ela passou um cartão comercial para Gabriel. O número que Claudia discara era o
celular de Verônica.
— Eu já tinha saído do escritório quando Claudia me ligou e só no dia seguinte percebi
isso.
— Por que só no dia seguinte?
— Porque meu celular desaparecera naquele dia. Eu o encontrei na manhã seguinte, no
chão do meu carro. Nem me importei com isso, até o dia em que você foi me encontrar no

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