ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

rumo à planície costeira verdejante de Israel. Cinco minutos depois, as rodas bateram na pista
do Aeroporto Ben Gurion. Um dos vaticanistas gritou "Bem-vindos à Palestina ocupada!" e um
arcebispo doutrinário do Secretariado de Estado murmurou "Amém". Gabriel notou
claramente que, na Cúria, havia pessoas descontentes com a decisão do papa de passar o
tempo pascal numa Terra Santa controlada por judeus.
Conforme as instruções de Donati, Gabriel faria parte da unidade principal de proteção
do papa, o que significava que ele sempre estaria a poucos metros do Santo Padre. E foi assim
que Sua Santidade o Papa Paulo VII, o Bispo de Roma, Pontífice Máximo e sucessor de São
Pedro, saiu de seu avião emprestado seguido pelo filho único de sobreviventes do Holocausto
do vale de Jezreel. Como seu antecessor, o papa se abaixou e beijou a pista. Ao se erguer, ele
caminhou até o primeiro-ministro israelense e lhe deu um aperto de mão vigoroso. Os dois
trocaram cortesias por alguns minutos, cercados por anéis concêntricos de segurança. O
político escoltou o Santo Padre até um helicóptero. Gabriel entrou depois dele e se sentou
entre Donati e Metzler.
— Até agora tudo bem — comentou Donati, enquanto o helicóptero decolava.
— Sim — concordou Gabriel. — Mas agora começa a diversão.
Eles seguiram para o leste até as montanhas da Judeia, acima do desfiladeiro parecido
com uma escadaria que separava Jerusalém do oceano. Gabriel chamou a atenção para alguns
dos vilarejos que tinham enfrentado as piores batalhas durante a Guerra de Independência de
Israel. Então, Jerusalém surgiu à frente deles, flutuando, como se estivesse sendo erguida pela
mão de Deus. O papa olhou atentamente pela janela durante a travessia do helicóptero, de
oeste a leste, da nova para a antiga cidade. Ao sobrevoarem o Monte do Templo, viram o
Domo da Rocha reluzir sob o sol do meio-dia. Gabriel indicou a Igreja do Santo Sepulcro
para o Sumo Pontífice, bem como a Igreja da Dormição e o Jardim do Getsêmani.
— E seu filho? — perguntou o papa.
— Ali — respondeu Gabriel, apontando o Monte das Oliveiras.
O helicóptero se inclinou suavemente para o sul e sobrevoou a Linha Verde de 1949,
agora conhecida como a fronteira pré-1967. Do ar, era possível ver com clareza como ela se
dissolvera após mais de quarenta anos de ocupação israelense. Em poucos segundos, eles
passaram pela vizinhança mista de Abu Tor, pelo pequeno assentamento judeu de Har Homa,
na Cisjordânia, e pelo vilarejo árabe de Beit Jala, perto do qual ficava Belém. A Praça da
Manjedoura podia ser vista com facilidade ao longe, pois estava abarrotada com milhares de
pessoas, cada uma agitando uma pequena bandeira palestina. Nas ruas que conduziam até a
cidade, nenhum carro se movia, apenas os caminhões e jipes das Forças Armadas de Israel.
— É aqui que as coisas vão se tornar políticas — falou Gabriel a Donati. — É
importante nos mantermos em movimento, até porque nosso convidado de honra será o único
homem vestido de branco da cabeça aos pés.
Enquanto o helicóptero descia, o presidente Mahmoud Abbas e os líderes da
Autoridade Palestina aguardavam numa plataforma próxima à Basílica da Natividade.
— Bem-vindo, Vossa Santidade, à antiga terra da Palestina — exclamou Abbas, alto o
suficiente para que o comentário fosse ouvido pelos repórteres próximos. — E bem-vindo a
Belém e Jerusalém, a eterna e indivisível capital da Palestina.

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