presente no mundo. Também é um lembrete de que, como cristãos, temos uma parte da
responsabilidade pelo que ocorreu durante o Holocausto e devemos implorar por perdão. Uma
década atrás, na Grande Sinagoga de Roma, nós falamos sobre nossa cumplicidade no crime
que o Yad Vashem retrata. E hoje nós reafirmamos nossa tristeza e mais uma vez imploramos
por perdão. Mas agora, nestes tempos de tensões crescentes no Oriente Médio, nosso pesar
está misturado ao medo. Medo de que isso aconteça de novo.
A frase gerou um murmúrio na multidão. Vários repórteres da sala de imprensa do
Vaticano encaravam suas cópias do discurso, incrédulos. O papa tomou um gole de água e
esperou pelo silêncio. Então, ele olhou brevemente para Gabriel e Donati antes de retomar o
sermão.
— Desde que visitamos a Grande Sinagoga de Roma, a Igreja tomou medidas
importantes no sentido de eliminar o sentimento antissemita de nossos ensinamentos e textos.
Pedimos aos nossos irmãos islâmicos para empreenderem um exame de consciência similar,
mas, infelizmente, isso não aconteceu. Ao redor do mundo islâmico, homens sagrados
muçulmanos costumam pregar que o Holocausto não aconteceu e jihadistas radicais prometem
causar outro. A contradição é engraçada para alguns, mas não para mim, não quando uma
nação que jurou varrer Israel da face da Terra está se aprimorando para fazer justo isso.
Mais uma vez, a audiência se agitou, ansiosa. Gabriel observou os membros perplexos
da delegação da Cúria antes de voltar sua atenção para a figura diminuta de branco que estava
prestes a fazer história.
— Existem líderes que me asseguram que Israel pode viver com um Irã armado com a
bomba nuclear — continuou o papa. — Mas, para alguém que passou pela loucura da Segunda
Guerra Mundial, eles lembram muito aqueles que disseram que os judeus não tinham nada a
temer de uma Alemanha liderada por Hitler e pelos nazistas. Aqui, na cidade sagrada de
Jerusalém, nós somos lembrados a cada esquina que grandes impérios e grandes civilizações
podem desaparecer num piscar de olhos. As antigüidades dessas civilizações enchem nossos
museus, mas, constantemente, nós fracassamos em aprender com seus erros. Ficamos tentados
a pensar que chegamos ao fim da história, que isso nunca mais acontecerá. Mas a história é
feita todos os dias, e às vezes é feita por homens malignos. E, com bastante freqüência, a
história se repete.
Muitos dos repórteres já sussurravam em seus celulares. Gabriel suspeitou que eles
estivessem informando a seus editores que o Santo Padre tinha acabado de fazer uma mudança
significativa no que supostamente seria um discurso rotineiro no Yad Vashem.
— Portanto — prosseguiu o papa nesta ocasião solene, neste lugar sagrado, nós
fazemos mais que nos lembrarmos dos seis milhões que sofreram e morreram no Holocausto.
Nós renovamos nosso laço com os seus descendentes e garantimos a eles que faremos tudo ao
nosso alcance para garantir que isso nunca se repita.
O pontífice parou de falar, como se sinalizasse aos jornalistas que a parte mais
importante do pronunciamento ainda estava por vir. Quando ele voltou a discursar, sua voz não
era mais de pesar, e sim de determinação.
— Para este fim — anunciou ele de braços abertos, suas palavras ecoando pelos
monumentos do Yad Vashem —, nós prometemos ao povo de Israel, nossos irmãos mais
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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