ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Alguma novidade na batalha pela criança?
— O papa está rezando por nós.
— Eu também — falou Shamron. — Eu li um artigo interessante sobre infertilidade
recentemente. Dizia que às vezes viagens freqüentes podem interferir na concepção, que o
casal deve permanecer em casa tanto quanto possível, cercado pela família e por entes
queridos.
— Você não tem vergonha na cara?
— Não mesmo. — Shamron sorriu e colocou uma das mãos no braço de Gabriel. —
Você está feliz, filho?
— Estarei assim que conduzir Sua Santidade em segurança até um avião.
— Suponho que você esteja planejando acompanhá-lo?
Gabriel aquiesceu.
— Eu preciso ter uma conversa com Cario Marchese. E também tenho que terminar
aquele Caravaggio.
— Você nem sabe o que é um momento de tédio.
— Eu mataria por um.
— E quando você finalizar seus negócios em Roma?
Gabriel sorriu.
— Tome seu vinho, Ari. Dizem que é bom para o coração.
Como Shamron havia previsto, os comentários do papa durante a visita ao Monte do
Templo não foram bem recebidos pelo mundo muçulmano. Naquela noite, na Al Jazeera,
diversos comentaristas rotularam o discurso como uma afronta que não podia ser ignorada.
Assistindo de seu escritório, o imã Hassan Darwish achou o ultraje um tanto engraçado. Ele
sabia que em poucas horas as palavras do papa seriam apenas murmúrios de um velhinho de
branco. Com os olhos fixos na televisão, ele pegou o telefone e discou. O homem que ele
conhecia como Sr. Farouk atendeu no primeiro toque.
— Sim?
— Entregue os Alcorões no endereço que passei.
— Allahu Akbar.
Darwish desligou e saiu pela esplanada até chegar ao Domo da Rocha — não ao
corredor central do templo, mas à caverna logo abaixo da pedra, conhecida como Poço das
Almas. Ele se ajoelhou num tapete de oração mofado, ouvindo os gritos dos mortos. Logo eles
estariam livres, pensou Darwish, pois não haveria mais Poço das Almas. Se Alá permitisse
que tudo corresse de acordo com os planos, logo não haveria mais nada naquele lugar.


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Cidade Antiga, Jerusalém
Era Sexta-Feira Santa, e Jerusalém se encontrava num estado quase de histeria. Nos
distritos predominantemente judeus da Cidade Nova, a manhã se desenrolou com as rotineiras
preparações de última hora para o sabá que se aproximava. Mas, no leste de Jerusalém,

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