O primeiro-ministro estava aguardando na sala do gabinete, junto com o ministro da
Defesa, o ministro do Exterior e o líder do Shabak. A parede com monitores exibia imagens ao
vivo de câmeras da Cidade Antiga. Numa das telas, o vigário de Cristo se aproximava da
Igreja do Santo Sepulcro. Em outra, milhares de muçulmanos se reuniam no topo do Haram al-
Sharif. E, num terceiro, dezenas de agentes da polícia israelense vigiavam a Praça do Muro
das Lamentações, que agora estava vazia. Era a Sexta-Feira Santa do inferno, pensou Navot.
— Como estamos? — perguntou o primeiro-ministro, quando Navot se acomodou em
seu lugar habitual.
— Eles estão esperando sua ordem.
— Uma única analista afirma que há uma bomba no Monte do Templo que poderia
desmoronar todo o platô e você me diz que não tenho escolha além de acreditar nela.
— Correto.
— Você sabe o que vai acontecer se os palestinos descobrirem que Gabriel e Eli estão
lá dentro?
— É provável que alguém se machuque. E que a Primavera Árabe venha para
Jerusalém.
O primeiro-ministro encarou os monitores por um instante antes de concordar. Navot
logo passou a ordem para Gabriel. Poucos segundos depois, ele escutou o som de quatro
batidas fortes.
Alef, Bet, Gimel, Dalet...
E então estava terminado.
Gabriel e Lavon tinham pegado uma marreta, uma picareta, dois rolos de corda de
náilon e dois capacetes com lanternas de halogênio, além de todas as ferramentas pequenas
que conseguiram encontrar para ajudar a desarmar a bomba. Antes de colocar o capacete,
Lavon cobrira a cabeça com um quipá. Gabriel retirara o paletó, a gravata e o coldre de
ombro. A SIG Sauer 9 milímetros que Alois Metzler tinha dado a ele estava na parte de trás da
cintura. Ele deixou ligado o microfone do minirrádio, para que Navot pudesse escutar cada
passo e cada respiração.
Depois de quebrar o cimento, eles entraram numa passagem arqueada que os conduziu
pela base do muro de retenção ocidental até o interior do próprio monte. A via estava
pavimentada com pedras lisas como vidro. Três vezes por ano — no Pessach, Shavuot e
Suklcot —, os judeus dos reinos antigos de Israel haviam caminhado ali ao seguirem para o
Templo. Até mesmo Gabriel, que tinha outras coisas na cabeça além de história antiga, quase
podia sentir a presença de seus ancestrais. Lavon avançava com determinação pelo escuro, tão
entusiasmado que lhe faltava fôlego.
— Veja os ornamentos dessas pedras — disse ele, passando a mão pela parede fria da
passagem. — Elas só podem ser herodianas.
— Nós não temos tempo para ver pedras — replicou Gabriel, empurrando Lavon pela
passagem com o cabo da picareta.
— É bem provável que sejamos os últimos judeus a colocar os pés aqui.
— Bastante provável, se aquela bomba explodir.
Lavon apertou o passo.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1