ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Quanto tempo vai levar?
Mais uma vez, Navot fez a pergunta.
— Eles não têm certeza.
— Diga que eles precisam trabalhar mais rápido.
— Eles estão trabalhando o mais rápido possível.
— Diga, Uzi.
Navot passou a ordem ministerial para aumentar o ritmo. Depois de ouvir a resposta,
ele sorriu.
— O que ele falou? — perguntou o político.
— Que está trabalhando o mais rápido possível.
— Isso é verdade, Uzi?
— Não.
O primeiro-ministro sorriu, apesar da situação, e conferiu as horas.
Eram 14h12.
Às 14h15, o buraco tinha cerca de 30 centímetros. Cinco minutos depois, já era
possível atravessar os ombros e o quadril de um homem magro por ali. Gabriel passou
primeiro, raspando a pele dos braços, e foi seguido por Lavon. Depois de recolocar o quipá e
o capacete, ele ficou imóvel por um instante, tomado por uma reverência que o deixou sem
palavras. À frente, estava a cisterna, e além dela, erguendo-se na escuridão, o primeiro lance
de degraus herodianos.
— Só existe uma razão para esta cisterna — comentou Lavon, mergulhando a mão na
piscina comprida e retangular. — Era uma mikvah. Eles se purificavam ritualmente antes de
subir para o Templo.
— Tudo isso é muito interessante, professor, mas precisamos seguir em frente.
— Me deixe ao menos tirar algumas fotos.
— Podemos fazer uma parada na saída.
Lavon contornou a piscina e subiu correndo o primeiro lance de degraus, o feixe de luz
da lanterna saltando pelas paredes e pelo teto da passagem arqueada. Chegando ao topo, parou
de novo.
— Olhe para isso — falou Lavon, apontando para algumas linhas em hebraico antigo
esculpidas na pedra. — Diz que os gentios são proibidos de entrar no Templo. Por que razão
existiria um aviso desses se não houvesse um Templo?
Era uma pergunta lógica, mas, naquele momento, Gabriel tinha outra coisa na cabeça:
ele se perguntava por que quatro árabes grandes com lanternas estavam descendo a escada
seguinte na direção deles. Então, a primeira bala passou zunindo perto de seu ouvido e ele
soube a resposta. Aparentemente, os vizinhos haviam escutado o barulho. Não era nenhuma
surpresa, pensou Gabriel. O sangue nunca dorme.

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