— Como muitas mulheres neste país, minha irmã não foi capaz de encontrar um italiano
adequado para casar, nem mesmo para ter um relacionamento sério. É uma das razões pelas
quais fui para Londres. Eu me casei com um britânico. Assim, cinco anos depois, ele me deu
um divórcio britânico.
Paola secou as mãos e começou a guardar os pratos lavados. Havia algo de absurdo em
suas ações, como uma pessoa que rega um jardim ouvindo trovoadas ao longe, mas a atividade
parecia lhe trazer um senso de paz.
— Gêmeos são diferentes — afirmou ela, fechando o armário. — Nós compartilhamos
tudo. O útero de nossa mãe, nosso berçário, nossas roupas. Talvez você ache isso estranho, Sr.
Allon, mas eu sempre imaginei que minha irmã e eu compartilharíamos o caixão.
Ela andou até a geladeira. Na porta, presa por um ímã, havia uma imagem das irmãs
posando em frente à amurada de uma balsa. Até mesmo Gabriel, um bom fisionomista, mal
podia discernir uma da outra.
— Essa foto foi tirada durante um cruzeiro de um dia no Lago di Como, em agosto —
comentou Paola. — Eu me separara havia pouco tempo. Nós fomos sozinhas. A viagem foi por
minha conta, claro. Funcionárias do Vaticano não podem pagar pela estadia em hotéis cinco
estrelas. Foram as melhores férias que eu tive em anos. Claudia disse todas as coisas
apropriadas sobre meu divórcio, mas suspeito que, no fundo, ela estivesse aliviada.
Significava que eu seria dela de novo.
Paola abriu a geladeira, suspirou fundo e começou a jogar item a item numa lata de
lixo.
— Agora, centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo acreditam que minha
irmã cometeu suicídio. Mas nenhuma sabe que Gabriel Allon, ex-espião da inteligência
israelense e aliado do Vaticano, está sentado à mesa da cozinha dela.
— Eu gostaria de manter as coisas assim.
— Tenho certeza de que os funcionários do Vaticano também. Sua presença sugere que
eles acreditam que haja mais por trás da morte de minha irmã que apenas uma alma
atormentada.
Gabriel não falou nada.
— Você acha que Claudia cometeu suicídio?
— Não, eu não acredito que Claudia tenha se matado.
— Por que não?
Ele falou sobre o colar partido, os sapatos e o retângulo perfeito na mesa de Claudia.
— Você não foi a primeira pessoa a entrar aqui hoje — explicou ele. — Outros vieram
antes. Eram profissionais. Eles pegaram qualquer coisa que pudesse ser incriminadora,
incluindo o laptop de sua irmã.
Paola fechou a geladeira e, em silêncio, encarou a fotografia na porta.
— Você também notou a ausência do computador, não notou?
— Não é a única coisa — respondeu ela baixinho.
— O que mais?
— Minha irmã nunca dormia sem escrever algumas linhas em seu diário. Ela o deixava
na mesinha de cabeceira. Não está mais lá. — Paola Andreatti encarou Gabriel por um
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1