ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

Uma placa alertava que a saída para Cerveteri estava chegando. Gabriel saiu da
rodovia e passou alguns minutos dirigindo pelo antigo centro antes de seguir para a casa
localizada pouco depois dos limites da cidade, na Via Lombardia, número 22.
Era uma casa modesta de dois andares afastada da estrada, a fachada pintada com um
marrom meio desgastado e persianas verdes penduradas num ângulo ligeiramente torto. De um
lado havia um pomar e, do outro, um pequeno vinhedo podado para o inverno. Atrás, ao lado
de um anexo em ruínas, estava um station wagon amassado com janelas cobertas de poeira.
Um pastor-alemão pulou e latiu no jardim malcuidado na parte da frente. O animal parecia não
comer havia muitos dias.
— Não é o tipo de lugar em que alguém esperaria encontrar uma curadora de museu —
comentou Gabriel, encarando o cachorro, taciturno.
Ele pegou o celular e telefonou para o número de Falcone. Depois de cinco toques sem
resposta, Gabriel desligou.
— E agora? — perguntou Chiara.
— Esperamos uma hora. Depois voltamos.
— Onde vamos esperar?
— Em algum lugar discreto.
— Não é algo tão fácil numa cidade como esta.
— Alguma sugestão?
— Só uma.
A Necropoli delia Banditaccia ficava ao norte da cidade, no final de uma rua comprida
e estreita cercada por ciprestes. No estacionamento, havia um quiosque que servia lanches e
café. A alguns passos de distância, numa construção sem qualquer característica marcante e
que parecia estranhamente temporária, estava a bilheteria e uma pequena loja de presentes. A
única atendente, uma mulher com óculos imensos e traços que lembravam um pássaro, se
surpreendeu ao vê-los. Eles deviam ser os primeiros visitantes do dia.
Gabriel e Chiara pagaram a pequena taxa e receberam um mapa escrito à mão, que
deveriam devolver ao final da visita. Fazendo o papel de turistas, ambos desceram à primeira
tumba e observaram as câmaras funerárias vazias e geladas. Depois, se mantiveram na
superfície, passeando pelo labirinto de túmulos com o formato de colmeias, sozinhos na antiga
cidade dos mortos.
Para ajudar a passar o tempo, Chiara deu uma pequena palestra sobre os etruscos —
um povo misterioso, bastante religioso, mas, de acordo com os rumores, sexualmente
decadente, que tratava homens e mulheres como iguais. Muito avançados nas artes e ciências,
os artesãos etruscos ensinaram os romanos a pavimentar ruas e construir aquedutos e esgotos,
uma dívida que Roma pagou varrendo-os da face da Terra. Agora pouco restava da outrora
florescente civilização além de suas tumbas, mas era exatamente isso que eles tinham
pretendido. Os etruscos construíam seus lares com materiais provisórios, porém suas
necrópoles foram feitas para durar para sempre. Nas salas dos mortos, havia vasos, utensílios
e jóias — tesouros agora expostos nos museus do mundo e nas salas de estar dos ricos.
Depois de completar o passeio, os dois devolveram o mapa e seguiram para o
estacionamento, onde Gabriel voltou a ligar para o número de Falcone. Mais uma vez, não

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