houve resposta.
— E agora? — perguntou Chiara.
— Almoço.
Ele andou até o quiosque e comprou meia dúzia de sanduíches prontos envoltos em
plástico.
— Está com fome? — indagou Chiara.
— Não são para nós.
O casal entrou no carro e retornou para a casa de Falcone.
9
Cerveteri, Itália
Em meio à fraternidade ocidental de espionagem, o medo de cachorros de Gabriel era
tão lendário quanto suas aventuras. Não era um medo irracional e, sim, amparado por um
vasto conjunto de evidências empíricas recolhidas no decorrer de inúmeros encontros
violentos. Parecia haver algo em Gabriel — seu comportamento com um quê de felino ou
talvez os olhos verdes vividos — que transformava até o mais dócil dos cães numa das feras
pré-históricas originárias da espécie. Ele já fora perseguido e atacado por cachorros e, certa
vez, num vale coberto de neve nas montanhas do interior da Suíça, o cão de guarda pastor-
alemão de um proeminente banqueiro suíço quebrara seu braço. Gabriel só sobrevivera ao
ataque porque atirara na cabeça do animal com uma Beretta. Tiro ao alvo não seria uma opção
muito sensata em Cerveteri, mas a agitação do cachorro de Falcone não permitiu a Gabriel
descartar completamente essa opção. O humor do animal parecia ter piorado. Havia apenas
uma razão para alguém manter uma criatura tão desagradável como aquela: Falcone estava
escondendo algo em sua propriedade e era necessário manter os curiosos a distância.
Felizmente para Gabriel, o animal parecia ter sido maltratado, o que significava que ele
estava pronto para ser aliciado. E foi isso que inspirou a compra da grande sacola de
sanduíches na necrópole etrusca.
— Talvez você devesse me deixar fazer isso — sugeriu Chiara. Gabriel lhe lançou um
olhar de reprovação. — Eu só pensei que...
— Eu sei o que você pensou.
Ele dirigiu propriedade adentro e seguiu devagar pelo caminho esburacado de
cascalho. O cachorro logo se lançou contra o carro — não contra o lado do carona, mas na
direção de Gabriel. Ele correu ao lado do pneu dianteiro, detendo-se de tempo em tempo
numa postura agressiva para mostrar os dentes selvagens. Quando o veículo parou, ele se
atirou contra a janela de Gabriel como um míssil e tentou mordê-lo através do vidro. Gabriel
encarou o animal com calma, o que o deixou ainda mais inquieto. Ele tinha os olhos amarelos
translúcidos de um lobo e espumava como se tivesse raiva.
— Talvez você devesse tentar falar com ele — aconselhou Chiara.
— Eu não negocio com terroristas.