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PIAZZA DI SANT'IGNAZIO ROMA
No coração de Roma, entre o Panteão e a Via del Corso, há uma pequena praça
agradável chamada Piazza di Sant'Ignazio. No seu lado norte, há uma igreja que leva o mesmo
nome, conhecida pelo glorioso afresco do teto pintado pelo jesuíta Andréa Pozzo. Ao sul, do
outro lado de uma extensão cinza de paralelepípedos, existe um palazzo ornamentado com
fachadas pintadas de amarelo e branco. Duas bandeiras oficiais tremulam sobre a varanda do
terceiro andar e, acima da entrada solene, está o brasão dos Carabinieri. Uma plaqueta
declara que o imóvel é ocupado pela Divisão de Defesa do Patrimônio Cultural. Mas, no
mundo policial, a unidade é conhecida simplesmente como Esquadrão de Arte.
Na época em que foi formada, em 1969, ela era a única organização policial do mundo
dedicada exclusivamente a combater o lucrativo comércio de arte e antigüidades roubadas.
Sem dúvida a Itália precisava de uma agência desse tipo, pois o país fora abençoado com uma
abundância de arte e incontáveis criminosos profissionais determinados a roubar tudo. No
decorrer das duas décadas seguintes, o Esquadrão de Arte apresentou acusações contra
milhares de pessoas suspeitas de envolvimento em crimes relacionados à arte e conseguiu
recuperar um bom número de obras de alto nível, inclusive de Rafael, Giorgione e Tintoretto.
Porém, a paralisia institucional começou a se manifestar. A quantidade de funcionários foi
reduzida a poucas dezenas de oficiais em idade de aposentadoria — muitos dos quais quase
nada sabiam sobre arte —, e no interior do gracioso palazzo o trabalho passou a ser
conduzido num ritmo tipicamente romano. A legião de detratores da unidade costumava dizer
que se gastava mais tempo debatendo onde almoçar do que buscando as pinturas roubadas —
suficientes para encher um museu novo por ano.
Isso mudou com a chegada do general Cesare Ferrari. Filho de professores da
empobrecida região da Campânia, ele passou sua carreira lutando contra os problemas mais
intratáveis do país. Durante os anos 1970, numa época de terríveis bombardeios terroristas na
Itália, ele ajudou a neutralizar a organização comunista dos Brigadas Vermelhas. Em seguida,
durante as guerras da Máfia dos anos 1980, ele serviu como comandante da divisão de
Nápoles infestada por criminosos. O cargo era tão perigoso que a esposa e as três filhas de
Ferrari foram forçadas a viver sob proteção contínua. Ele próprio foi alvo de inúmeras
tentativas de assassinato, incluindo uma carta-bomba que lhe custou dois dedos e o olho
direito. Sua prótese ocular, com uma pupila imóvel de olhar inflexível, deixou alguns de seus
subordinados com a sensação preocupante de estarem contemplando o olho onisciente de
Deus. Ferrari o usava com grande efeito ao persuadir criminosos de baixo escalão a traírem
seus superiores. Um dos chefes derrubados fora o responsável pela carta-bomba. Depois da
condenação, o general fez questão de escoltá-lo pessoalmente até a cela asquerosa de
Poggioreale onde o mafioso passaria o resto de sua vida.
O cargo no Esquadrão de Arte foi dado a Ferrari como uma espécie de recompensa por
uma carreira longa e distinta.
— Trabalhe na papelada por alguns anos — dissera o chefe dos Carabinieri — e você
poderá se aposentar, ir para seu vilarejo na Campânia e plantar tomates.