ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

Gabriel não respondeu. Ferrari o encarou sobre a ponta do cigarro como um atirador
de elite mirando.
— A explicação mais lógica é que você pediu a ajuda de amigos de seu antigo serviço
para obter os registros. Se esse for o caso, você violou seu acordo com as nossas autoridades.
E isso, infelizmente, deixa você numa posição muito instável.
Era uma ameaça, pensou Gabriel, mas apenas moderada.
— Você chegou a falar com Falcone? — perguntou o general.
— Eu tentei.
— E...?
— Ele não estava atendendo ao telefone.
— Então você decidiu arrombar a propriedade?
— Por preocupação com a segurança dele.
— Ah, sim. Claro — falou Ferrari, sarcástico. — E, lá dentro, você descobriu o que
parecia ser um grande esconderijo de antigüidades.
— Além do tombarolo derretendo num tanque de cloreto de amônio.
— Como você passou pelas fechaduras?
— O cachorro foi um desafio maior do que as fechaduras.
O general sorriu e bateu o cigarro no cinzeiro.
— Roberto Falcone não era um tombarolo qualquer — comentou ele mas um capo
zona, o líder de uma rede regional de pilhagem. Os saqueadores de baixo escalão levavam o
que conseguiam roubar para ele. Falcone passava o produto para a linha de traficantes e
negociantes corruptos.
— Você parece saber bastante sobre um homem cujo cadáver foi descoberto poucas
horas atrás.
— Roberto Falcone também era meu informante — admitiu Ferrari. — Meu melhor
informante. E agora, graças a você, ele está morto.
— Eu não tenho nada a ver com a morte dele.
— É o que você diz.
Um assistente uniformizado deu uma batida discreta na porta do escritório. O general o
dispensou com um gesto autoritário e retomou aquela pose do doge, de deliberação solene.
— Para mim, só há duas opções. Primeira: fazemos tudo de acordo com as regras. Isso
significa jogar você aos lobos do serviço de segurança. Pode significar um pouco de
publicidade negativa, não apenas para o seu governo, como também para o Vaticano. As
coisas podem ficar feias, Allon. Muito feias.
— E a segunda opção?
— Você começa me dizendo tudo o que sabe sobre a morte de Claudia Andreatti.
— E depois?
— Eu o ajudo a encontrar o assassino dela.


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