ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

A doutora passou por Gabriel e deu uma olhada no objeto atrás da vitrine à prova de
balas. A imagem do vaso retratava o corpo sem vida de Sarpédon, filho de Zeus, sendo
carregado pelas personificações do Sono e da Morte até seu túmulo, e tinha uma semelhança
marcante com a composição de A deposição de Cristo.
— Nunca me canso de olhar para essa imagem — disse a Dra. Marchese. — E quase
tão linda quanto o Caravaggio que você está restaurando para o Vaticano. — Ela olhou por
cima do ombro. — Não acha, Sr. Allon?
— Para falar a verdade, não.
— Você não aprecia vasos gregos?
— Não creio que tenha dito isso.
Verônica o examinou por um tempo, como se ele fosse uma estátua sobre um pedestal.
— Vasos gregos estão entre os objetos mais extraordinários já criados — afirmou ela.
— Sem eles, não haveria nenhum Caravaggio. E, infelizmente, há homens que fazem de tudo
para possuí-los. — Ela fez uma pausa, pensativa. — Mas você não veio até aqui para debater
sobre os méritos estéticos da arte antiga. Você está aqui por causa de Claudia.
— Suponho que você tenha visto a coletiva de imprensa do general Ferrari.
— Os repórteres engoliram tudo, como sempre. — Ela não pareceu impressionada. —
Mas é óbvio que ele aprendeu um pouco sobre dissimulação no Vaticano.
O general tinha avisado Gabriel sobre a perspicácia cáustica da Dra. Marchese.
Graduada pela Universidade La Sapienza, em Roma, ela era considerada uma das maiores
autoridades italianas em civilização etrusca e trabalhara como consultora especializada para o
Esquadrão de Arte em inúmeras ocasiões, inclusive na investigação de Medici. Depois da
batida policial na propriedade de Medici em Genebra, Verônica passara semanas investigando
o material recuperado, tentando determinar a origem de cada peça e, se possível, quando elas
tinham sido arrancadas dos túmulos. Na ocasião, ela trabalhara com uma jovem e talentosa
discípula chamada Claudia Andreatti.
— O general me falou que você conseguiu o emprego no Vaticano para Claudia.
— Ela era minha melhor amiga, mas não precisou da minha ajuda. Claudia era uma das
pessoas mais talentosas que já trabalharam para mim. Ela conquistou o emprego pelos
próprios méritos.
— Você sabia que ela tinha assumido uma investigação da coleção de antigüidades do
Vaticano. Ela buscou sua ajuda com regularidade.
— Vejo que você andou lendo os e-mails dela.
— E registros telefônicos também. Eu sei que ela entrou em contato com Roberto
Falcone antes de morrer. Pensei que você pudesse me dizer por quê.
Verônica ficou em silêncio.
— Claudia disse que encontrara um problema na coleção. Ela achou que Falcone fosse
capaz de ajudá-la.
— Que tipo de problema?
— Parece que havia material faltando. Muito material.
— Dos depósitos?
— Não só dos depósitos. Das galerias também.

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