moderado. Gabriel aceitou duas taças de Prosecco de um garçom com blazer branco e passou
uma para Chiara. Ao se voltar, deparou com Cario.
— É um prazer finalmente conhecê-lo, Sr. Allon. — Uma de suas mãos apertou a de
Gabriel e a outra segurou seu braço logo acima do cotovelo. — Eu estava na Praça de São
Pedro quando os terroristas atacaram o Vaticano. Nenhum de nós que somos próximos ao
Santo Padre jamais esquecerá o que você fez naquele dia. — Ele soltou a mão de Gabriel e se
apresentou para Chiara. — Você faria a gentileza de me emprestar seu marido por um instante?
Eu tenho um pequeno problema que gostaria de discutir com ele.
— Isso dependeria da natureza do problema.
— Posso garantir que é de natureza completamente artística.
Sem esperar pela resposta, Cario conduziu Gabriel pela imponente escadaria central
até o segundo andar do palazzo, onde se estendia uma galeria interminável de tesouros
ancestrais: pinturas e tapeçarias, esculturas e relógios, antigüidades de todos os tipos. Cario
fez o papel de guia, parando de vez em quando para ressaltar um ou outro artefato digno de
nota. Ele falou com muita erudição, demonstrando um amplo conhecimento de arte, mas havia
também certo desconforto em sua voz, como se suas posses representassem um fardo. Até
mesmo Gabriel considerou opressiva a presença de tantas obras de arte num só lugar; era
como passar por armazéns cheios de objetos pilhados em guerras distantes. Ele parou na
frente de um Canaletto. A pintura, um retrato luminoso da Piazza di San Marco, era vagamente
familiar. Então, Gabriel se lembrou de onde tinha visto a obra. Ela fora roubada alguns anos
atrás. Sua recuperação, anunciada com bastante alarde pelo general Ferrari, foi considerada
um dos grandes triunfes do Esquadrão de Arte.
— Agora compreendo por que o general não divulgou o nome do dono — comentou
Gabriel.
— Foi a pedido meu. Ficamos com medo de virarmos um alvo se os ladrões soubessem
da qualidade das peças em nossa coleção.
— Na época, houve relatos de que o dono teve um papel significante na recuperação da
pintura.
— Você tem uma boa memória, Sr. Allon. Eu conduzi as negociações de resgate
pessoalmente. Na verdade, nem avisei ao general Ferrari que o quadro fora roubado até
conseguir um acordo. Ele prendeu os ladrões quando tentaram coletar o dinheiro. Não eram
grandes profissionais.
— Eu me lembro disso. Também recordo que eles foram mortos pouco depois de
chegarem na prisão Regina Coeli.
— Parece que foi o resultado de uma briga por território no presídio.
Ou talvez você tenha enviado alguém para matá-los por terem roubado do chefe,
pensou Gabriel.
— Há algo em particular que você queira me mostrar? — perguntou ele.
— Isso — respondeu Cario, gesticulando em direção a uma grande tela no fim da
galeria.
A imagem, um retrato da Adoração dos Pastores, mal era visível por baixo da grossa
camada de sujeira e do verniz descolorido. Cario ligou um interruptor para iluminar a pintura.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1