ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

desordens de estresse, incluindo um problema estomacal crônico. Ele se acomodou em Viena,
onde abriu um pequeno escritório de investigação chamado Inquéritos e Reivindicações da
Guerra. Operando com um orçamento curto, ele conseguiu rastrear milhões de dólares em bens
saqueados no Holocausto, além de ter exercido um papel significativo num acordo
multibilionário com bancos suíços. Mas, quando uma bomba destruiu seu escritório e matou
dois de seus funcionários, Lavon voltou a Israel para perseguir sua paixão original: a
arqueologia. Atualmente, ele trabalhava como professor adjunto de arqueologia bíblica na
Universidade Hebraica e participava com freqüência de escavações ao redor do mundo, como
no Túnel do Muro das Lamentações.
— Quase não dá para lembrar como era esse lugar antes da Guerra dos Seis Dias —
falou Lavon, gesticulando em direção ao vale embaixo do terraço. — Meus pais costumavam
me trazer aqui para ver o arame farpado e as armas jordania— nas colocadas ao longo da
linha do armistício de 1949. Os judeus não tinham permissão para rezar no Muro das
Lamentações, nem para visitar o cemitério no monte das Oliveiras. Até cristãos precisavam
apresentar certidões de batismo para visitar os locais sagrados. E agora nossos amigos do
Ocidente gostariam que cedêssemos a soberania do muro aos palestinos. — Lavon balançou a
cabeça. — Em nome da paz, é claro.
— E uma pilha de pedras, Eli.
— Aquelas pedras estão encharcadas com o sangue dos seus ancestrais. E é por causa
delas que temos o direito a uma pátria aqui. Os palestinos sabem disso. É por essa razão que
eles fingem que o Templo nunca existiu.
— Negação do Templo — disse Gabriel.
Lavon assentiu, pensativo.
— É uma prima em primeiro grau da negação do Holocausto, também bem difundida
nos mundos árabe e islâmico. A lógica é muito simples: nenhum Holocausto, nenhum Templo...
— Nenhum judeu na Palestina.
— Exato. Mas não é só conversa. Com a autoridade religiosa do Waqf, os palestinos
tentam sistematicamente apagar qualquer evidência de um templo no Monte do Templo. Nós
travamos uma guerra arqueológica aqui em Jerusalém todos os dias. Um lado tenta preservar o
passado, o outro tenta destruí-lo, em especial sob o disfarce de construções como a Mesquita
Marwani.
Capaz de acomodar mais de sete mil fiéis, ela ficava na ponta sudeste do Monte do
Templo, numa antiga câmara subterrânea conhecida como Estábulos de Salomão. O imenso
projeto desestabilizara o planalto sagrado e criara uma protuberância no lado sul do muro.
Seguindo um acordo negociado entre o governo israelense e o Waqf, uma empresa de
engenharia da Jordânia fizera os reparos, deixando para trás um remendo branco feio, visível
do outro lado da cidade.
— Naturalmente — continuou Lavon uma construção do tamanho da Mesquita Marwani
deslocou várias toneladas de terra e detritos. E o que você acha que o Waqf fez com tudo isso?
— Lavon respondeu a própria pergunta: — Eles levaram o material para o depósito municipal
de lixo ou o arremessaram por cima das paredes do vale do Cédron. Eu fiz parte da equipe
que examinou todo o material. Nós encontramos centenas de artefatos da época do Primeiro e

Free download pdf