identificação no saguão e a outra operava o elevador. Os que cometiam o pecado imperdoável
de perder uma ou ambas as chaves eram banidos para o deserto da Judeia e nunca mais vistos.
Gabriel só passara uma vez pelo saguão, no dia seguinte a seu primeiro encontro com
Shamron. Dali em diante, ele só entrara no prédio pela garagem subterrânea secreta. Foi o que
ele fez naquele momento, com Chiara e Lavon. Eles desceram três lances de escada e
seguiram por um corredor vazio até a sala 456C, que já tinha servido como depósito de
computadores obsoletos e móveis gastos e, freqüentemente, ponto de encontro clandestino
para aventuras românticas dos funcionários noturnos. Agora o lugar era conhecido pelo
Escritório inteiro apenas como o Covil de Gabriel. A fechadura sem chave abria-se com um
código, que era a data de nascimento de Gabriel. De acordo com um engraçadinho do
Escritório, esse era o segredo mais bem-guardado de Israel.
— O que houve? — perguntou Eli, quando a mão de Gabriel hesitou sobre o teclado.
— Estou tendo um problema de idade.
— Você não consegue lembrar a própria data de nascimento?
— Não é isso — respondeu Gabriel, digitando o código. — Só não consigo acreditar
que foi há tanto tempo.
Ele entrou na sala, acendeu as luzes e olhou ao redor. As paredes estavam cobertas
com restos de antigas operações. Todas haviam salvado vidas inocentes e estavam
encharcadas de sangue, boa parte pertencente a Gabriel. Ele caminhou até o quadro-negro, o
último do prédio, e pôde ver leves traços de sua própria escrita — o esboço de uma operação
conhecida apenas pelo codinome Obra-Prima. Ela tinha resultado na sabotagem das
instalações iranianas de enriquecimento de urânio e Israel e o Ocidente ganhara anos
preciosos. Agora parecia que o tempo se esgotava. Os iranianos estavam novamente prestes a
realizar seu sonho nuclear. E parece que pretendiam punir qualquer um que tentasse impedi-
los usando o Hezbollah, seu ávido aliado, como instrumento de vingança.
— Se algum dia o Escritório construir um museu — falou Lavon — ele só estará
completo se tiver uma réplica desta sala.
— E qual seria o nome da exposição?
— O vilarejo dos amaldiçoados.
A resposta não veio de Lavon, e sim da figura alta e bem-vestida ao lado da porta, com
uma pasta fina embaixo do braço. Yossi Gavish era um funcionário sênior da Pesquisa, a
divisão de análises do Escritório. Nascido em Londres e graduado pela faculdade de All
Souls, ele ainda falava hebraico com um pronunciado sotaque britânico e era incapaz de
trabalhar sem um fornecimento constante de chá Earl Grey e biscoitos digestivos McVities.
— Não acredito que estou aqui de novo — disse ele.
— Nem eu. — Gabriel apontou para o arquivo. — O que você tem aí?
— Tudo o que o Escritório sabe sobre Cario Marchese. — Ele largou a pasta numa das
mesas e olhou em volta. — Uzi quer colocar nós quatro contra Cario e todo o Hezbollah?
— Não se preocupe — falou Gabriel, sorrindo. — Os outros já devem estar chegando.
Levou quase a manhã inteira para o Departamento Pessoal rastrear os membros
restantes da equipe de Gabriel e despachá-los para o pequeno calabouço sem janelas. De
forma geral, as extrações ocorreram tranqüilamente, mas em alguns casos houve uma
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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