ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

resistência local inesperada. Todas as reclamações foram encaminhadas direto para Uzi
Navot, que deixou claro que não toleraria dissidência.
— Este não é o mundo árabe — declarou para um chefe de departamento descontente.
— É o Escritório. E aqui nós ainda somos totalitários.
Eles chegaram a intervalos irregulares, como membros de uma equipe de infiltração
voltando para a base depois de uma missão noturna bem-sucedida. O primeiro foi Yaakov
Rossman, um homem com o rosto marcado por cicatrizes, ex-oficial de contraterrorismo do
Shabak, o serviço de segurança interna de Israel, que agora treinava pessoas para operar na
Síria e no Líbano. Em seguida, foi a vez de dois ajudantes de campo multifuncionais, Oded e
Mordecai, seguidos por Rimona Stern, uma ex-agente de inteligência militar que atualmente
tratava de assuntos relacionados ao programa nuclear iraniano. Lembrando uma modelo do
pintor Rubens, alta e com cabelos cor de areia, Rimona era sobrinha de Shamron. Gabriel a
conhecia desde que ela era pequena. Sua mais terna lembrança era de uma destemida garotinha
indo ladeira abaixo com seu patinete na frente da casa do tio famoso.
A próxima a aparecer foi Dina Sarid, uma mulher miúda de cabelos escuros. Um
verdadeiro banco de dados humano, ela era capaz de recitar hora, local, executores e número
de baixas de todos os atos terroristas cometidos contra alvos israelenses e ocidentais,
incluindo a longa lista de atrocidades perpetradas pelos assassinos do Hezbollah. Por muitos
anos, focou suas consideráveis habilidades analíticas em Imad Mughniyah, comandante militar
e alto sacerdote do terror. Em grande parte graças ao trabalho de Dina, ele encontrou o
merecido fim em Damasco, em 2008, quando uma bomba foi detonada embaixo de seu carro.
A agente celebrou a morte visitando os túmulos de sua mãe e duas de suas irmãs. No dia 19 de
outubro de 1994, elas tinham sido assassinadas por um homem-bomba do Hamas, outro aliado
do Irã, que se explodiu num ônibus na rua Dizengoff, em Tel Aviv. Dina ficou gravemente
ferida no ataque e ainda mancava um pouco.
Como sempre, Mikhail Abramov chegou por último. Esguio e louro, com um rosto
delicado e olhos glaciais, ele imigrara da Rússia para Israel ainda adolescente e entrara na
Sayeret Matkal, a unidade de operações especiais de elite das Forças Armadas de Israel. Uma
vez descrito por Shamron como "um Gabriel sem consciência", tinha assassinado vários
líderes terroristas do Hamas e do Jihad Islâmico Palestino. Atualmente, desempenhava
missões similares para o Escritório, embora seus talentos não fossem limitados apenas ao uso
da pistola.
Nos corredores e salas de reuniões do King Saul Boulevard, os nove homens e
mulheres reunidos na sala 456C eram conhecidos pelo codinome Barak — "relâmpago" em
hebraico —, devido à sua capacidade de preparar e conduzir ataques com rapidez. Eles
tinham lutado juntos, muitas vezes em condições de estresse insuportável, em campos de
batalha secretos se estendendo de Moscou ao Caribe e ao Empty Quarter, na Arábia Saudita.
Gabriel tivera sorte de sobreviver às últimas operações, mas agora ele estava mais uma vez
diante da equipe, sem danos aparentes, enfeitiçando a todos com a história de uma curadora
cujo pai havia sido um tombarolo, de um padre com segredos perigosos e de um mafioso
chamado Cario Marchese que fazia negócios com o Hezbollah. A meta da operação, explicou
Gabriel, seria simples: eles montariam um dossiê que destruiria Cario e, no processo,

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