ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Bem cosmopolita ele. — Navot encarou a foto, franzindo a testa. — O que nós
sabemos sobre seus hábitos de viagem?
— Como a maior parte das pessoas no comércio de antigüidades, ele passa boa parte
do tempo em aviões e quartos de hotel.
— Líbano?
— Ele aparece em Beirute pelo menos duas vezes por mês. — Gabriel fez uma pausa.
— Ele também passa um tempo significativo aqui em Israel.
Navot ergueu os olhos bruscamente, mas não disse nada.
— De acordo com os amigos de Eli na Autoridade de Antigüidades de Israel, Daoud
Ghandour é um visitante assíduo do Monte do Templo. Na verdade — Gabriel se corrigiu —,
ele passa a maior parte de seu tempo embaixo do monte.
— Fazendo o quê?
— David é um consultor não remunerado para a Autoridade Palestina e o Waqf em
questões arqueológicas. Aliás, isso é outra coisa que está faltando na biografia oficial.
Navot fitou o retrato por um tempo.
— Qual é a sua teoria?
— Acho que ele é o homem do Hezbollah na rede de Cario. Ele vende bens roubados
em sua galeria em St. Moritz, envia o lucro de volta para casa pelo BBL e dá uma comissão de
dez por cento para seu padrinho, Cario Marchese.
— Você pode provar isso?
— Ainda não. Por isso estou propondo que façamos negócios com ele.
— Como?
— Vou oferecer algo irresistível e ver se ele morde a isca.
— Eu provavelmente não deveria perguntar — Navot suspirou mas onde você pretende
conseguir algo tão irresistível?
— Roubando, é claro.
— É claro — repetiu Navot, sorrindo. — Você precisa de alguma coisa?
— De dinheiro, Uzi. De muito dinheiro.
A doutrina do Escritório determina que agentes partindo para missões no exterior
devem passar sua noite final em Israel, dentro de um apartamento seguro conhecido como
local de partida. Lá, livres das distrações de esposas, amantes, filhos e animais de estimação,
eles assumem as identidades que vão usar como uma armadura até que voltem para casa.
Apenas Gabriel e Eli decidiram não participar desse antigo ritual operacional, visto que, por
seus próprios cálculos, já tinham passado mais tempo vivendo com identidades falsas do que
com as próprias.
No fim, ambos decidiram passar pelo menos parte daquela última noite na companhia
de mulheres que tinham sofrido agressões. Lavon foi até o Túnel do Muro das Lamentações
passar algumas horas com sua amada Rivka e Gabriel fez uma peregrinação ao hospital
psiquiátrico no monte Herzl para visitar Leah. Como de costume, ele chegou depois do horário
de visitas. O médico de Leah estava esperando no saguão. Um homem de aparência rabínica,
com um quipá e uma barba grisalha comprida, ele era a única pessoa em Israel não

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