ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

atravessava seus sobretudos. Durand, completamente infeliz, implorou pelo calor de um táxi,
mas Lavon queria ter certeza de que eles não estavam sendo seguidos, por isso continuaram
indo em frente. Por fim, entraram no saguão de um prédio de luxo com vista para a Pont Marie
e subiram a escada em espiral até um flat no quarto andar. Sentado na sala de estar, parecendo
relaxado, se achava Gabriel. Com um leve movimento dos olhos cor de esmeralda, convidou
Durand a se juntar a ele. O francês hesitou, mas, depois de receber uma cutucada de Lavon, se
aproximou com a lentidão de um homem condenado sendo conduzido à forca.
— E óbvio que você me reconhece — afirmou Gabriel, observando Durand com
atenção enquanto ele se acomodava em seu assento. — Isso costuma ser um problema em
nossa área de atuação. Mas não neste caso.
— Por quê?
— Porque você sabe que sou um profissional, assim como você. Também sabe que não
sou alguém que desperdiçaria meu valioso tempo fazendo ameaças vãs.
Gabriel baixou os olhos para a mesinha de centro. Em cima, havia duas maletas
idênticas.
— Bombas-relógio? — perguntou Durand.
— Seu futuro. — Gabriel colocou a mão sobre uma das maletas. — Esta contém
evidências suficientes para manter um homem na cadeia pelo resto da vida.
— E a outra?
— Um milhão de euros em dinheiro vivo.
— O que eu preciso fazer?
Gabriel sorriu.
— O que você faz de melhor.


22


Quai des Célestins, Paris
Havia uma garrafa de armanhaque no aparador. Depois de escutar a proposta de
Gabriel, Maurice Durand se serviu de uma dose bem generosa. Ele hesitou antes de tomar o
primeiro gole.
— Não se preocupe, Maurice — falou Gabriel, num tom tranquilizador. — Nós
guardamos o uísque envenenado para ocasiões especiais.
Durand bebeu um pouco, com cautela.
— Tem uma coisa que eu não entendo — disse ele, após um momento. — Por que não
roubar esse objeto você mesmo ou pegar um item de um dos seus museus?
— Porque eu vou contar uma história — respondeu Gabriel. — E como toda boa
história, ela precisa ser verossímil. Se um objeto de alto valor aparecesse do nada, nosso alvo
suspeitaria de uma armadilha. Mas se ele acreditar que foi roubado há pouco tempo por um
bando de ladrões com bastante experiência...
— Ele vai supor que está lidando com criminosos profissionais, e não espiões
profissionais.

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