ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

Gabriel ficou em silêncio.
— Que inteligente — falou Durand, erguendo o copo uma fração de centímetro para
fingir um brinde. — O que exatamente você está procurando?
— Um vaso ático de pinturas vermelhas, do século IV ou V a.C., algo grande o
suficiente para chamar a atenção no mercado ilícito.
— Você gostaria que viesse de uma fonte pública ou particular?
— Particular. Mas não de um museu.
— Não é tão difícil quanto você pensa.
— Roubar um museu?
Durand assentiu.
— Mas seria falta de educação.
— A escolha é sua. — Durand se sentou e encarou seu drinque, pensativo. — Há uma
mansão perto de Saint-Tropez. Fica na Baie de Cavalaire, não muito longe da propriedade que
pertencia àquele oligarca russo. O nome dele me fugiu agora.
— Ivan Kharkov?
— Sim, ele mesmo. Conhece o homem?
— Só pela reputação.
— Ele foi assassinado na frente de seu restaurante favorito em Saint-Tropez. Uma
confusão.
— Foi o que ouvi. Mas você estava me falando da casa do vizinho dele.
— Não é tão grande quanto a antiga casa de Ivan, mas o dono tem um gosto impecável.
— Quem é?
— Um belga — respondeu Durand, com desdém. — Ele herdou uma fortuna industrial
e está fazendo o melhor que pode para gastar até o último centavo. Uns dois anos atrás nós
tomamos um Cézanne dele. Foi um trabalho de reposição.
— Você deixou uma cópia no lugar.
— Uma cópia muito boa. Parece que nosso amigo belga ainda acredita que a pintura
seja genuína, pois até onde eu sei nunca denunciou o roubo para a polícia.
— Qual era?
— O Jas de Bouffan.
— Quem cuidou da falsificação?
— Você tem os seus segredos, Sr. Allon, e eu tenho os meus.
— Continue.
— O belga tem várias outras pinturas de Cézanne. Também tem uma coleção muito
impressionante de antigüidades. Uma peça em especial é adorável, um vaso de terracota para
transportar água do século V a.C., feito por Amykos. Retrata duas jovens dando presentes para
dois atletas nus. Muito sensual.
— Você conhece bem cerâmica grega.
— É uma de minhas paixões.
— Com que freqüência o belga visita a casa?
— Em julho e agosto — respondeu Durand. — No resto do ano, só fica lá o caseiro.
Ele tem um pequeno chalé dentro da propriedade.

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