ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— E quanto à segurança?
— Certamente você sabe que não existe de fato segurança. Desde que não haja
nenhuma surpresa, meus empregados podem entrar e sair da casa em poucos minutos. E você
logo terá seu vaso grego.
— Acho que eu gostaria de um Cézanne também.
— Mais verossímil?
— Os detalhes são tudo, Maurice.
Durand sorriu. Ele também era um homem de detalhes.
Durand exigiu apenas que eles resistissem à tentação de monitorar seus movimentos.
Gabriel concordou de imediato, embora não tivesse a menor intenção de cumprir. Certa vez, o
francês roubara centenas de quadros durante um único verão. Os serviços de um criminoso
como ele seriam úteis, mas apenas um tolo daria as costas para um homem assim.
Por três dias, Durand permaneceu em seu beau quartier no norte do oitavo
arrondissement. Sua rotina, assim como sua loja, estava cheia de esquisitices agradáveis de
outros tempos. Ele tomava dois cafés creme toda manhã na mesma mesa do mesmo bar, sem
qualquer companhia além da pilha de jornais comprados sempre na mesma tabacaria. Depois,
atravessava a rua estreita e, às dez horas, desaparecia dentro de sua pequena gaiola dourada.
Às vezes, era forçado a abrir as portas para um cliente ou entregador, mas Durand passava a
maior parte do tempo sozinho. O almoço ia da uma da tarde até às duas e meia, hora em que
voltava para a loja, e lá passava o resto da tarde. Às cinco, fazia uma visita breve à madame
Brossard. Em seguida, retornava a sua mesa no restaurante para uma taça de Côtes du Rhône,
que ele sempre tomava com um ar de suprema satisfação.
Para as almas infelizes forçadas a vigiarem essa vida aparentemente encantadora,
Maurice Durand era alvo de imensa fascinação e um forte ressentimento. Não é de espantar
que alguns membros da equipe, em especial Yaakov, tenham pensado que Gabriel se enganara
ao colocar o estágio inicial da operação nas mãos daquele homem.
— Veja os relatórios de vigilância — exigiu Yaakov depois do jantar no esconderijo
principal da equipe, próximo ao Bois de Boulogne. — É óbvio que Maurice passou a mão em
nossos euros e não tem a menor intenção de entregar os bens.
Mas Gabriel não estava preocupado. Em outras ocasiões, Durand se revelara um
homem de princípios.
— Ele também é um ladrão nato — replicou. — E não há nada que um ladrão aprecie
mais do que roubar dos ricos.
A confiança de Gabriel foi recompensada na manhã seguinte, quando a Unidade 8200
escutou Durand reservando acomodações de primeira classe no TGV do meio-dia para
Marselha. Yaakov e Oded o acompanharam na viagem, e às cinco da tarde eles viram sua
vítima fazendo uma reunião discreta com um pescador no Velho Porto. Mais tarde, esse
"pescador" seria identificado como Pascal Rameau, líder de uma das muitas organizações
criminosas de Marselha.
Em menos de 24 horas, o bando de Rameau avaliava a suntuosa casa do belga. Gabriel
soube disso porque Yossi e Rimona tinham alugado por pouco tempo uma villa nas colinas que
dava vista para a propriedade, e a observavam constantemente através de câmeras com lentes

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