de longo alcance e filmadoras. A equipe de Rameau não foi vista de novo. Mas, duas noites
depois, durante uma violenta tempestade na Côte dAzur, os dois foram acordados pelo barulho
de sirenes ao longo da estrada da costa. Nas horas seguintes, viram luzes azuis piscando à
frente do casarão. Pela freqüência de rádio da polícia, ficaram sabendo de tudo o que
precisavam: um Cézanne e um vaso grego roubados e nenhuma prisão. C'est la vie.
Saiu em todos os jornais, e era exatamente isso que eles queriam. O Cézanne foi a
atração principal. O adorável vaso grego foi um mero adendo. O abalado proprietário
ofereceu uma recompensa substancial por informações que levassem à recuperação de seus
bens e os seguradores, o grandioso Lloyds de Londres, anunciaram com discrição que
considerariam um pagamento de resgate. A polícia francesa bateu em algumas portas e
interrogou alguns dos suspeitos de sempre, mas, depois de uma semana, decidiram que tinham
coisas mais importantes para fazer do que perseguir um pedaço de lona e um velho fragmento
de cerâmica. Além do mais, eles já tinham lidado com esses ladrões. Os homens eram
profissionais, não aventureiros, e quando roubavam algo, a obra nunca era vista de novo.
O roubo gerou os tremores comuns de apreensão nas galerias de arte parisienses,
porém, no mundo de Maurice Durand, foi apenas uma pedrinha numa superfície tranqüila de
água. Eles o escutaram discutindo o caso com sua garçonete favorita, mas, de resto, sua vida
seguiu em frente no mesmo ritmo monótono. Ele abria a loja às dez, almoçava à uma da tarde e
ia ao encontro dos prazeres de madame Brossard às cinco em ponto antes de tomar a taça de
vinho tinto para o bem de seu pequeno coração inocente.
Finalmente, uma semana após o roubo, ele ligou para Gabriel no número combinado
para dizer que os itens requisitados — um barômetro suíço de bolso do começo do século XX
e um telescópio de bronze e madeira da Merz de Munique — haviam chegado em segurança. A
pedido de Gabriel, Durand os entregou no flat com vista para a Pont Marie no fim do dia e foi
embora o mais rápido que pôde. A pintura, uma paisagem do amado monte de Santa Vitória, de
Cézanne, tinha sido removida com habilidade da moldura e guardada num tubo de papelão. O
vaso foi embalado numa bolsa de náilon. Eli Lavon o retirou e colocou com cuidado na mesa
da cozinha. Então, sentou à frente da obra por alguns minutos com Gabriel ao lado,
contemplando a imagem das mulheres gregas presenteando os atletas nus.
— Alguém tem que fazer isso — disse Lavon depois de um tempo. — Mas não vai ser
eu.
— Eu sou um restaurador — alegou Gabriel. — Eu não conseguiria.
— E eu sou um arqueólogo — afirmou Lavon, na defensiva. — Além disso, nunca fiz
nada violento.
— Eu nunca assassinei um vaso.
— Não se preocupe. Ao contrário de seus outros trabalhos, este será apenas
temporário.
Gabriel suspirou fundo, colocou o vaso de volta na bolsa e a empurrou com gentileza
até a beira da mesa. O som do impacto foi como de ossos se quebrando. Lavon abriu o zíper
devagar e olhou melancólico para dentro.
— Assassino — murmurou.
— Alguém tinha que fazer isso.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1