Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

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TIBERÍADES, ISRAEL


ERA SABAT. Shamron ordenou a Gabriel que viesse a Tiberíades
para a ceia. Gabriel, enquanto dirigia devagar pela encosta, olhou para cima
e no terraço de Shamron viu postes de luz dançando ao vento que sopra do
lago — e então vislumbrou Shamron, a eterna sentinela, caminhando
lentamente pelo meio das chamas.
Gilah, antes de lhes servir a comida, acendeu um par de velas na
sala de jantar e recitou a bênção. Gabriel fora educado num lar sem religião,
mas nesse momento pensou que a visão da mulher de Shamron, de olhos
fechados, as mãos desenhando a luz da vela em direção ao seu rosto, era a
mais bela que já tinha visto. Shamron estava ausente e preocupado durante
a refeição e sem paciência para conversa banal. Mesmo nestas alturas ele
não falaria do seu trabalho em frente de Gilah, não por não confiar nela,
mas por temer que ela deixasse de o amar se soubesse de todas as coisas
que ele já fizera. Gilah preenchia os longos silêncios falando sobre a sua
filha, que se tinha mudado para a Nova Zelândia para fugir do pai e estava a
viver com um homem numa quinta de criação de galinhas. Ela sabia que
Gabriel estava de alguma forma ligado ao Escritório, mas não suspeitava da
verdadeira natureza do seu trabalho. Achava que ele era um escriturário
que passava bastante tempo em viagem e apreciava arte. Serviu-lhes café e
um tabuleiro de biscoitos e frutos secos, em seguida levantou a mesa e foi
lavar a loiça. Gabriel, por entre o som de água corrente e porcelana a bater
emanando da cozinha, pôs Shamron ao corrente. Falaram em voz baixa,
com as tremeluzentes velas de sabat entre eles. Gabriel mostrou-lhe as
pastas de Erich Radek e Action 1005. Shamron elevou a fotografia até a luz
da vela e franziu o sobrolho, então elevou os óculos de ler até a testa careca
e cravou o seu olhar duro em Gabriel mais uma vez.
— O que é que sabe sobre o que aconteceu a minha mãe durante a
guerra?

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