Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

Tateou na escuridão por um momento e ligou um interruptor que ecoou
um estalido agudo. Uma série de lâmpadas de teto, zumbindo e tinindo com
o súbito fluxo de eletricidade, iluminaram uma longa passagem
subterrânea com um teto de pedra em arco. Em silêncio, o Bispo acenou
para entrarem.
A cave tinha sido construída para homens menores. O pequeno
bispo conseguia andar pela passagem sem alterar a sua postura. Gabriel
tinha apenas de inclinar a cabeça para evitar as lâmpadas, mas monsenhor
Donati, com bem mais de um metro e oitenta de altura, era forçado a
dobrar-se pela cintura como um corcunda. Aqui residia a memória
institucional da Anima e do seu seminário, quatro séculos de registros
baptismais, certificados de casamento e obituários. Os registros dos padres
que aqui tinham servido e dos alunos que tinham estudado dentro das
paredes do seminário. Parte estava guardada em armários de pinho, outra
em grades ou em caixas de cartão. As novas adições eram guardadas em
contentores de plástico modernos. O cheiro a umidade e a caruncho era
penetrante, e um fio de água escorria, algures, das paredes. Gabriel, que
tinha uma noção sobre os efeitos prejudiciais do frio e da umidade no
papel, rapidamente perdeu a esperança de encontrar os papéis do bispo
Hudal intatos. O bispo Drexler pairou sobre eles por um momento e
ofereceu-se para ajudar na busca dos documentos. Monsenhor Donati deu-
lhe uma pancadinha no ombro e disse que eles se arranjariam sozinhos. O
bispo fez o sinal da cruz e afastou-se lentamente pela passagem arqueada.


FOI GABRIEL que, duas horas mais tarde, encontrou.

Erich Radek tinha chegado à Anima em 3 de março de 1948. Em 24
de maio, a Comissão de Ajuda Pontífice, a organização de ajuda a refugiados
do Vaticano, emitira a Radek um documento de identificação do Vaticano
com o número 9645/99 e o pseudônimo "Otto Krebs". Nesse mesmo dia,
com a ajuda do bispo Hudal, Otto Krebs usou a sua identificação do
Vaticano para conseguir um passaporte da Cruz Vermelha. Na semana
seguinte foi-lhe emitido um visto de entrada pela República Árabe da Síria.
Comprou passagens de classe econômica com dinheiro que lhe foi dado
pelo bispo Hudal e zarpou do porto italiano de Gênova em fins de junho.
Krebs levava quinhentos dólares no bolso. Um recibo do dinheiro,
ostentando a assinatura de Radek, tinha sido guardado pelo bispo Hudal. O
artigo final do arquivo de Radek era uma carta, com um selo sírio e o
carimbo postal de Damasco, que agradecia ao bispo Hudal e ao Santo Padre
pela ajuda e a promessa de que um dia a dívida seria paga. Estava assinada

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