Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

ajustar contas com os agentes israelenses que o tinham tentado assassinar.
Herr Fischer estava acompanhado, nessa tarde, por um homem chamado
Otto Krebs. Nunca tinha visto Krebs antes. Era alto e de olhos azuis, de
aparência muito germânica, ao contrário de Brunner. Bebeu whisky
copiosamente e parecia vulnerável, um homem que talvez estivesse a ser
chantageado ou manipulado de alguma forma.
— É só isto? — perguntou Gabriel. — Uma só vez num cocktail?
— Aparentemente sim, mas não fique desencorajado — Cohen deu-
lhe mais uma pista. — Veja o próximo relatório.
Gabriel baixou o olhar e leu.
Eu vi "Herr Fischer" na semana passada numa recepção no
Ministério da Defesa. Perguntei-lhe pelo seu amigo, Herr Krebs. Disse-lhe
que Krebs e eu tínhamos discutido um projeto comercial e eu estava
desapontado por não ter ouvido mais falar dele. Fischer disse que isso não
o surpreendia uma vez que Krebs se tinha mudado recentemente para a
Argentina.
Pazner serviu a Gabriel um copo de vinho.
— Ouvi dizer que Buenos Aires é encantador nesta altura do ano.


GABRIEL E PAZNER separaram-se na Piazza Farnese; Gabriel
caminhou sozinho pela Via Giulia em direção ao seu hotel. A noite esfriara,
e estava muito escuro na rua. O silêncio profundo, combinado com o áspero
piso de pedra por baixo dos seus pés, permitia imaginar como teria sido
Roma há um século e meio atrás, quando os homens do Vaticano ainda
governavam com supremacia. Pensou em Erich Radek, caminhando por
esta mesma rua, enquanto esperava pelo seu passaporte e bilhete para a
liberdade.
Mas terá sido mesmo Radek que veio para Roma?
Segundo os registros do bispo Hudal, Radek veio para Anima em
1948 e partiu pouco depois como Otto Krebs. Eli Cohen colocou "Krebs" em
Damasco em finais de 1963. Em seguida Krebs, segundo o relatório,
mudou-se para a Argentina. Os fatos expuseram uma relevante e talvez
inconciliável contradição do caso contra Ludwig Vogel. De acordo com os
documentos do Staatsarchiv, Vogel vivia na Áustria em 1946, trabalhando
para a autoridade de ocupação americana. Se isso fosse verdade, então
Vogel e Radek não podiam ser a mesma pessoa. Como se explica então que
Max Klein afirme que Vogel esteve em Birkenau? O anel que Gabriel tirara
do chalé de Vogel na Alta Áustria? 1005, bom trabalho, Heinrich... O relógio

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