Gabriel caminhou para as traseiras da igreja. O cemitério estendia-se pela
encosta suave de uma colina em direção a uma pequena mata de densos
pinheiros. Um milhar de lápides e monumentos memoriais erguiam-se por
entre as ervas daninhas como um exército despedaçado em retirada.
Gabriel deixou-se estar por um momento, mãos na cintura, deprimido pela
perspectiva de ter de andar pelo cemitério procurando por uma placa
ostentando o nome de Otto Krebs na escuridão.
Caminhou de volta à parte da frente da igreja. Chiara esperava-o
nas sombras do pátio. Puxou a pesada porta de carvalho da igreja e
descobriu que estava destrancada. Chiara seguiu-o para dentro. Ar frio
assentou-lhe na cara, assim como uma fragrância que ele já não sentia
desde que deixara Veneza: a mistura de cera de vela, incenso, verniz para
madeira e bolor, o cheiro inconfundível de uma igreja católica. Quão
diferente era esta da Igreja de San Giovanni Crisóstomo em Cannaregio.
Sem altar dourado, sem colunas de mármore nem absides elevadas nem
retábulos gloriosos. Um simples crucifixo de madeira pendurado sobre o
altar não ornamentado e uma plataforma de velas memoriais
tremeluzentes perante uma estátua da Virgem. Os vitrais da nave lateral
perderam a cor com a entrada da luz crepuscular.
Gabriel caminhou hesitante pela nave central. Nessa altura, uma
figura escura saiu da sacristia e caminhou com largas passadas pelo altar.
Parou perante o crucifixo, dobrou o joelho no chão e voltou-se para Gabriel.
Era pequeno e magro, vestia calças pretas, uma camisa preta de mangas
curtas e um colar romano. O seu cabelo e patilhas estavam impecavelmente
cortados, e a sua cara atraente e escura tinha um traço de vermelho nas
maçãs do rosto. Não parecia surpreendido pela presença de dois estranhos
na sua igreja. Gabriel aproximou-se lentamente. O padre estendeu a mão e
identificou-se como padre Ruben Morales.
— O meu nome é René Duran — disse Gabriel. — Sou de Montreal.
Perante isto o padre acenou, como se estivesse habituado a
visitantes estrangeiros.
— O que posso fazer por si, Monsieur Duran?
Gabriel ofereceu a mesma explicação que dera à mulher do
Bariloche Tageblatt nessa manhã — que viera à Patagônia em busca de um
homem que acreditava ser irmão da sua mãe, um homem chamado Otto
Krebs. Enquanto Gabriel falava, o padre cruzou os dedos e observou-o com
um par de olhos gentis e calorosos. Quão diferente parecia este homem
pastoral de Monsignor Donati, o burocrata profissional da Igreja, ou do
bispo Drexler, o amargo reitor da Anima. Gabriel sentiu-se mal por estar a
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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