como um homem a debater-se para manter um voto de silêncio. Lev parecia
bloqueado numa competição de olhar fixo com o enorme retrato de
Theodor Herzl pendurado na parede por trás da mesa do primeiro-
ministro. Tirou notas com uma caneta de tinta permanente em ouro e
olhou para o relógio de pulso uma vez, pensativo.
— Conseguimos pegá-lo? — perguntou o primeiro-ministro, para
em seguida acrescentar: — Sem cair o céu e a terra?
— Sim, senhor, acredito que conseguimos.
— Diga-me como pretende fazê-lo.
A exposição de Gabriel não poupou nenhum detalhe. O primeiro-
ministro sentou-se em silêncio com as mãos gordas entrelaçadas sobre a
mesa, a escutar atentamente. Quando Gabriel terminou, o primeiro-
ministro abanou a cabeça uma vez e virou o seu olhar para Lev:
— Presumo que é aqui que vocês discordam?
Lev, o eterno tecnocrata, levou um momento a organizar os seus
pensamentos antes de responder. A sua resposta, quando finalmente a deu,
era desapaixonada e metódica. Se tivesse havido maneira de desenhá-la
num gráfico em tempo real, Lev teria pegado na caneta e esboçado a linha
até o fundo da folha, como um balde de água fria. Foi de tal forma, que
permaneceu sentado e em breve reduziu a sua audiência a um penoso
tédio. O seu discurso tinha muitas pausas, durante as quais fazia um
triângulo com os indicadores e os pressionava contra os lábios.
— Um impressionante trabalho de investigação — disse Lev num
elogio indireto a Gabriel —, mas agora não é altura para desperdiçar tempo
e capital político ajustando contas com velhos nazistas. Os fundadores,
exceto no caso de Eichmann, resistiram ao ímpeto de perseguir os autores
da Shoah porque sabiam que atrasaria o principal objetivo do Escritório, a
proteção do Estado. Os mesmos princípios aplicam-se hoje. Prender Radek
em Viena levaria a uma reação negativa na Europa, onde o apoio a Israel
está por um fio. Iria também pôr em perigo a pequena e indefesa
comunidade judaica da Áustria, onde as correntes de antissemitismo são
fortes e profundas. O que faremos quando os judeus forem atacados nas
ruas? Pensas que as autoridades austríacas vão mexer uma palha para pôr
cobro a isso? Finalmente, o seu trunfo: Por que razão é responsabilidade
israelense acusar judicialmente Radek? Deixa isso para os austríacos.
Quanto aos americanos, deixa-os deitarem-se na cama que eles próprios
fizeram. Expõe Radek e Metzler e afasta-te. Conquistas uma posição e as
consequências serão menos severas do que uma operação de rapto.
O primeiro-ministro ficou pensando em silêncio, para em seguida
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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