Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

duas tentativas de homicídio.
— Não é necessário que saibas por que razão o israelense esteve na
Argentina, ou mesmo que lá tenha estado. O que precisas de saber é que
este assunto deu uma reviravolta perigosa.
O girar do copo voltou.
— Como já acreditavas, os americanos sabem tudo. A minha
verdadeira identidade, o que eu fiz durante a guerra. Não havia maneira de
o esconder. Éramos aliados. Trabalhamos juntos na grande cruzada contra
os comunistas. No passado, sempre contei com a sua discrição, não por
algum sentido de lealdade para comigo, mas por simples medo de
embaraço. Eu não tenho ilusões, Manfred. Sou como uma prostituta para
eles. Viraram-se para mim quando estavam sozinhos e necessitados, mas
agora que a guerra-fria acabou, sou como uma mulher que eles preferiam
esquecer. E se agora estão de alguma forma a cooperar com os israelenses...
— deixou a frase por terminar. — Estás a ver o que quero dizer, Manfred?
Kruz acenou.
— Presumo que saibam sobre Peter?
— Eles sabem tudo. Eles têm o poder de me destruir, e ao meu filho,
mas apenas se estiverem dispostos a suportar a dor de uma ferida auto-
infligida. Eu costumava estar seguro de que eles nunca se virariam contra
mim. Agora, já não tenho certeza.
— O que queres que eu faça?
— Mantém sob vigilância constante as embaixadas israelense e
americana. Designa vigilância física a todo o pessoal dos serviços secretos.
Controla os aeroportos e estações de trem. Contata, também, os teus
informadores nos jornais. Eles podem recorrer à imprensa. Não quero ser
apanhado desprevenido.
Kruz olhou para a mesa e viu o seu próprio reflexo na superfície
polida.
— E quando o ministro me perguntar por que dedico tantos
recursos aos americanos e aos israelenses? O que digo?
— Preciso lembrar o que está em jogo, Manfred? O que dirá ao
ministro é problema seu. Apenas faça o que digo. Não vou deixar Peter
perder estas eleições. Entendeu?
Kruz olhou para os impiedosos olhos azuis e viu mais uma vez o
homem vestido de preto dos pés à cabeça. Fechou os olhos e concordou
com um movimento de cabeça.
O velho levou o copo aos lábios e, antes de beber, sorriu. Era tão
agradável como uma súbita racha numa placa de vidro. Alcançou o bolso de

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