Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

No Instituto de Estudos Linguísticos de Prag a, tinha dito Gabriel.
Mais uma vez, ela respondeu como Gabriel tinha instruído.
— E há quanto tempo ele é professor do Instituto de Estudos
Linguísticos de Praga?
— Três anos.
— E vê-o com frequência?
— Uma vez por mês, às vezes duas.
O segundo guarda tinha entrado na van. Uma imagem de Radek
passou-lhe pela mente, olhos fechados, máscara de oxigênio no rosto. Não
acorde, pensou ela. Não se mexa. Não faça barulho. Aja decentemente, pelo
menos uma vez em sua vida desprezível.
— E quando entrou na Áustria?
— Já disse isso.
— Diga outra vez, por favor.
— Hoje.
— A que horas?
— Não me lembro da hora.
— Era de manhã? Era de tarde?
— Tarde.
— Início da tarde? Fim da tarde?
— Início.
— Então ainda era dia?
Ela hesitou; ele pressionou-a.
— Sim? Ainda era dia?
Ela acenou. De dentro da van veio o som da porta traseira se
abrindo. Ela se forçou a olhar diretamente para os olhos do interrogador. O
seu rosto, escurecido pela irritante luz da lanterna, começou a parecer-se
com Erich Radek, não a versão patética do Radek inconsciente na traseira
da van, mas o Radek que arrastou uma criança chamada Irene Frankel das
fileiras da marcha da morte de Birkenau em 1945 e a levou para uma
floresta polonesa para um momento de tormento final.
— Diga as palavras, judia! Foi transferida para leste. Teve comida
em abundância e cuidados médicos adequados. As câmaras de gás e o
crematório são mentiras bolchevique-judaicas.
Eu consigo ser tão forte como você, Irene, pensou ela. Eu consigo
passar por isso. Por você.
— Parou em algum lugar na Áustria?
— Não.
— Não aproveitou a oportunidade para visitar Viena?

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