Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

gabinete do oficial Gruppenführer Heinrich Müller, chefe da Gestapo.
Müller tira um pedacinho de almoço dos dentes e sacode uma carta que
acabou de receber de Luther no Ministério dos Negócios Estrangeiros. É
1942.
— Rumores das nossas atividades no Leste começaram a chegar
aos ouvidos dos nossos inimigos. Também temos um problema com um dos
locais na região de Warthegau. Queixas sobre uma contaminação qualquer.
— Se me permite colocar a questão óbvia, Herr Gruppenführer, que
diferença faz se rumores chegam ao Oeste? Quem vai acreditar que tal coisa
foi realmente possível?
— Rumores é uma coisa, Erich. Provas é outra.
— Quem vai descobrir provas? Algum servo polonês atrasado
mental? Um vesgo abridor de valas ucraniano?
— Talvez os Ivans?
— Os russos? Como descobririam?
Müller ergueu uma mão de pedreiro. Discussão terminada. E então
ele percebeu. A aventura russa do Führer não estava indo de acordo com os
planos. A vitória no Leste já não estava assegurada.
Müller inclinou-se para a frente.
— Estou te mandando para o inferno Erich. Vou espetar essa sua
cara nórdica tão fundo no esterco que nunca mais vai ver a luz do dia.
— Como poderei jamais agradecer, Herr Gruppenführer?
— Limpe a porcaria. Toda. Em toda parte. É sua responsabilidade
garantir que se mantenha apenas um rumor. E quando a operação estiver
concluída, quero que seja o único homem de pé.
Ele concordou. O rosto de Müller afastou-se pela noite polonesa.
Estranho, não é? A sua verdadeira contribuição para a Solução Final não foi
matar mas esconder e garantir a segurança, e no entanto estava com
problemas agora, sessenta anos depois, por causa de um jogo idiota que
fizera bêbado em Auschwitz num domingo. Aktion 1005? Sim, fora um
projeto seu, mas nenhum sobrevivente judeu testemunharia sua presença
na beira de uma vala comum, porque não havia sobreviventes. Ele geriu
uma operação fechada. Eichmann e Himmler teriam sido aconselhados a
fazer o mesmo. Foram tolos em permitir que tantos sobrevivessem.
Uma memória surgiu, janeiro de 1945, um rio de judeus frágeis
dispersos ao longo de uma estrada muito parecida com esta. A estrada de
Birkenau. Milhares de judeus, cada um com uma história para contar, cada
um uma testemunha. Ele defendia a liquidação da população inteira do
campo antes da evacuação. Não, disseram. Trabalho escravo era necessário

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