Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

Perguntou a Gabriel o que queria que ela fizesse com elas.
— Queima-as — respondeu ele.
— Mas, provavelmente, valem muito dinheiro agora.
— Não me interessa o quanto valem — disse Gabriel. — Eu nunca
mais quero ver a cara dele.
Tziona ajudou-o a transportar os quadros para o carro dele.
Arrancou para Jerusalém sob um céu carregado de nuvens. Dirigiu-se
primeiro a Yad Vashem. O conservador recebeu os quadros e apressou-se
para ir assistir ao início do depoimento de Erich Radek. como o resto do
país. Gabriel conduziu pelas ruas silenciosas até o Monte das Oliveiras. Pôs
uma pedra na campa da sua mãe e recitou-lhe as palavras de luto Kaddish.
Fez o mesmo na campa do seu pai. Depois, dirigiu-se para o aeroporto e
apanhou o voo da tarde para Roma.


41


VENEZA * VIENA


NA MANHÃ SEGUINTE, na sestière de Cannaregio, Francesco
Tiepolo entrou na Igreja de San Giovanni Crisóstomo e atravessou
lentamente a nave. olhou para a Capela de Saint Jerome e viu luzes acesas
por detrás da lona que cobre a plataforma de trabalho. Aproximou-se
lentamente, agarrou no andaime com a sua mão, grande como a pata de um
urso, e abanou-o violentamente. O restaurador levantou a sua viseira de
lupa e fitou-o como um gárgula.
— Bem-vindo a casa, Mário — disse Tiepolo para cirna. — Estava a
começar a ficar preocupado com você. Por onde andaste?
O restaurador baixou a viseira e virou o seu olhar de volta para o
Bellini.
— Tenho andado a recolher centelhas, Francesco.
A recolher centelhas. Tiepolo tinha o bom senso suficiente para não
fazer mais perguntas. Apenas lhe interessava ter o restaurador finalmente
de volta a Veneza. — Quanto tempo até terminares?

Free download pdf