Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

sou maluca. Sabe como é, os homens-bomba, e todas as outras coisas...
A sua voz perdeu-se.
— Mesmo assim quero ir.
— Devia — disse Gabriel.
— É um local maravilhoso. Tocou-lhe no braço uma segunda vez.
— Os ferimentos do seu amigo são graves. O seu tom era amável,
provido de lamento.
— Vai passar por tempos muito duros.
— Vai sobreviver?
— Não estou autorizada a responder a questões dessa natureza. Só
os médicos podem dar prognósticos. Mas se quer a minha opinião, passe
algum tempo com ele. Diga-lhe coisas. Nunca se sabe, talvez ele consiga
escutá-lo.


ELE FICOU MAIS UMA HORA, olhando, através do vidro, para a
figura imóvel de Eli. A enfermeira regressou. Passou alguns minutos a
verificar os sinais vitais de Eli, em seguida fez um sinal a Gabriel para que
entrasse no quarto.
— É contra as regras — disse em tom conspiratório.
— Eu vigio a porta.
Gabriel não falou com Eli, apenas segurou a sua mão ferida e
inchada. Não havia palavras para descrever a dor que sentia ao ver outro
ente querido deitado numa cama de hospital vienense. Passados cinco
minutos a enfermeira voltou, colocou a mão no ombro de Gabriel e disse-
lhe que estava na altura de sair. Lá fora, no corredor, disse-lhe que o seu
nome era Marguerite.
— Estou de serviço amanhã à noite — disse. — Vejo-o nessa altura,
espero. Zvi tinha saído; uma nova equipe de guardas estava de serviço.
Gabriel apanhou o elevador até o hall e saiu para a rua. A noite estava ainda
mais fria. Enfiou as mãos nos bolsos do casaco e apressou o passo. Estava
prestes a apanhar a escada rolante até a estação de U-Bahn quando sentiu
uma mão no seu braço. Voltou-se, esperando encontrar Marguerite, mas em
vez disso ficou cara a cara com o velho que falava sozinho no hall quando
Gabriel chegou.
— Ouvi-o falar em hebraico com aquele homem da embaixada.
O seu alemão vienense era freneticamente apressado, os seus olhos
estavam úmidos.
— É israelense, não é? Um amigo de Eli Lavon? Não esperou por
resposta.

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