encontrava-se na fase final de uma exaustiva vistoria ao movimento do
pêndulo Neuchatel. A peça acabada chegaria perto dos dez mil dólares. Um
comprador, um colecionador de Lyon, estava à espera.
O sino à entrada da porta da loja interrompeu o trabalho do
Relojoeiro. Meteu a cabeça em volta da ombreira da porta e viu uma figura
na rua, um estafeta de moto com o seu casaco de couro molhado pela chuva
a reluzir como a pele de uma foca. Tinha um pacote debaixo do braço. O
Relojoeiro dirigiu-se à porta e destrancou-a. O estafeta entregou o pacote
sem dizer uma palavra, em seguida subiu para a moto e arrancou.
Em seguida voltou a trancar a porta e levou o pacote para a sua
bancada de trabalho. Desembrulhou-o lentamente — na verdade, ele fazia
quase tudo lentamente — e levantou a tampa de uma caixa de cartão.
Dentro estava um relógio de parede francês Luis XV Deveras encantador.
Removeu o invólucro e expôs o mecanismo. O dossiê e a fotografia estavam
no seu interior. Dispensou alguns minutos a rever o documento, em
seguida escondeu-o dentro de uma grande caixa intitulada Relógios de
Viagem da Época Vitoriana.
O Luís XV tinha sido entregue pelo cliente mais importante do
Relojoeiro. Não sabia o seu nome, apenas que era rico e politicamente bem
relacionado. Muitos dos seus clientes partilhavam esses dois atributos. No
entanto, este era diferente. Um ano atrás dera ao Relojoeiro uma lista de
nomes, homens dispersos da Europa ao Oriente Médio, até a América do
Sul e estava a trabalhar a lista com firmeza, por ordem descendente. Matou
um homem em Damasco, outro no Cairo. Matou um francês em Bordéus e
um espanhol em Madrid. Atravessou o Atlântico para matar dois argentinos
ricos. Um nome ainda estava na lista, um banqueiro suíço de Zurique. O
Relojoeiro ainda não tinha recebido o sinal final para prosseguir contra ele.
O dossiê que tinha recebido esta noite continha um novo nome, mais perto
de casa do que preferia, mas dificilmente um desafio. Decidiu aceitar a
missão.
Pegou no telefone e ligou.
— Recebi o relógio. Quando precisa dele pronto?
— Considere uma reparação de emergência.
— Há uma sobretaxa para reparações de emergência. Assumo que
esteja disposto a pagá-la?
— Quanto é a sobretaxa?
— Os meus honorários habituais, mais metade.
— Para este trabalho?
— Quere-o feito ou não?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1