Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

o Central. Numa mesa junto a uma janela alta, em arco, Shamron entregara
a Gabriel um bilhete de avião para Roma e a chave de um cacifo de
aeroporto onde iria encontrar uma pistola Beretta. Duas noites mais tarde,
na entrada de um apartamento na Piazza Annibaliano, Gabriel tinha
matado pela primeira vez.
Na altura, como agora, estava a chover quando Gabriel chegou ao
Café Central. Sentou-se num banco de couro e colocou um maço de jornais
em alemão na pequena mesa redonda. Pediu um bolo com chantilly e café
com creme. Chegaram numa bandeja prateada com um copo de água com
gelo. Abriu o primeiro jornal, Die Presse, e começou a ler. O atentado ao
Escritório de Investigação e Reclamações do Tempo da Guerra era a
história de capa. O ministro do Interior prometia prisões rápidas. A direita
política exigia duras medidas de imigração para impedir terroristas árabes,
e outros elementos perturbadores, de atravessarem as fronteiras da
Áustria.
Gabriel terminou o primeiro jornal. Pediu outro bolo e abriu uma
revista chamada Profil. Olhou em volta pelo café. Enchia-se rapidamente de
empregados de escritório vienenses que paravam para um café ou uma
bebida à saída do trabalho. Infelizmente, nenhum era remotamente
semelhante à descrição de Ludwig Vogel dada por Max Klein.
Às cinco da tarde, Gabriel já tinha bebido três xícaras de café e
estava a começar a perder a esperança de sequer ver Ludwig Vogel. De
repente reparou que o garçom esfregava as mãos e alternava o peso de um
pé para o outro. Gabriel seguiu a linha do olhar do garçom e viu um
cavalheiro de certa idade atravessando a porta. Um austríaco da velha
escola, se percebe o que quero dizer, Sr. Argov. Sim, percebo, pensou
Gabriel. Boa tarde, Herr Vogel.


SEU CABELO ERA quase branco, bem ralo e penteado muito colado
à cabeça. A boca era pequena e tensa, a roupa cara e elegantemente vestida:
calças cinzas de flanela, um blazer de aba dupla, um lenço cor de vinho ao
pescoço. O garçom ajudou-o a despir o sobretudo e acompanhou-o a uma
mesa, apenas a alguns metros de Gabriel.
— Um café com creme, Karl. Nada mais.
Confiante, barítono, uma voz habituada a dar ordens.
— Posso tentá-lo com uma torta de chocolate? Ou um strudel de
maçã? Está muito bom esta tarde.
Um fatigado abanar de cabeça, uma vez para a esquerda, uma vez
para a direita.

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