— Sim —, concordou Shamron. — Ela foi mais corajosa do que
todos nós.
A OCUPAÇÃO REAL DE Bruce Crawford era um dos segredos mais
mal guardados de Israel. O alto, patrício americano era o chefe da CIA na
divisão de Tel Aviv. Declarado tanto ao governo israelense como à
Autoridade Palestiniana, ele regularmente servia de ligação entre os dois
lados do conflito. Rara era a noite em que o telefone de Crawford não
tocava a horas terríveis. Ele andava cansado, e isso via-se.
Cumprimentou Shamron já dentro dos portões da embaixada na
Rua Haraykon e acompanhou-o até o edifício. A sala de Crawford era amplo
e, para o gosto de Shamron, decorado demais. Parecia mais o escritório de
um vice-presidente corporativo do que o covil de um espião, mas esse era o
estilo americano. Shamron afundou-se numa cadeira de pele e aceitou um
copo de água gelada com limão da secretária. Ainda considerou acender um
cigarro turco, mas reparou no sinal de PROIBIDO FUMAR
proeminentemente disposto na frente da mesa de Crawford.
Crawford parecia não ter pressa em ir direto ao assunto em
questão. Shamron já esperava isso. Havia uma regra não declarada entre
espiões: Quando se pede um favor a um amigo, deve-se estar preparado
para pagar na mesma moeda. Shamron, por estar tecnicamente fora do
jogo, não podia oferecer nada palpável, apenas o conselho e a sabedoria de
um homem que já cometera muitos erros. Finalmente, depois de uma hora,
Crawford disse:
— Sobre aquela coisa do Vogel.
A voz do americano arrastou-se. Shamron, tomando nota dos
vestígios de quebra na voz de Crawford, inclinou-se para a frente na sua
cadeira, expectante. Crawford queimou tempo removendo um clip do
dispensador magnético especial e esticou-o zelosamente.
— Demos uma olhadela em nossos próprios registros — disse
Crawford, o olhar fugindo para baixo em direção ao seu trabalho. — Até
enviamos uma equipe a Maryland para pesquisar no anexo dos Arquivos.
Temo que estejamos eliminados.
— Eliminados? — Shamron considerava o uso de termos esportivos
americanos desapropriado num assunto tão vital como a espionagem.
Agentes, no mundo de Shamron, não eram eliminados, não ficavam fora de
jogo, nem faziam carrinhos. Só havia sucesso ou fracasso, e o preço do
fracasso, numa vizinhança como o Oriente Médio, era normalmente sangue.
— O que é que significa isso exatamente?