Morte em Viena

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Tem certeza de que foi Erich Radek que assassinou aquelas
pobres moças na Polônia?
— Tanta certeza quanto se pode ter sessenta anos depois do fato.
— E se Ludwig Vogel for na realidade Erich Radek?

Gabriel levantou o braço e desligou o abajur.


23


ROMA


A VIA DELLA PACE estava deserta. O Relojoeiro parou aos portões
da Anima e desligou o motor da moto. Estendeu o braço, a sua mão tremia,
e pressionou o botão do intercomunicador. Não obteve resposta. Tocou
novamente à campainha. Desta vez uma voz de adolescente saudou-o em
italiano. O Relojoeiro, em alemão, pediu para ver o reitor.
— Lamento, mas não é possível. Por favor telefone de manhã para
marcar uma visita, e o bispo Drexler terá o prazer de o receber.
Buonanotte, signore. O Relojoeiro encostou-se com força ao botão do
intercomunicador.
— Foi me dito, por um amigo do bispo em Viena, para vir aqui. É
uma emergência.
— Como se chama o amigo?
O Relojoeiro respondeu honestamente à pergunta.
Fez-se silêncio e depois ouviu-se: — Desço num instante, signore.
O Relojoeiro abriu o casaco e examinou a ferida mesmo por baixo
da clavícula direita. O calor da bala tinha cauterizado os vasos junto à pele.
Havia pouco sangue, apenas um pequeno latejar e arrepios de choque e
febre. Uma arma de pequeno calibre, pensou, provavelmente uma 22. Não é
o tipo de arma usada para infligir danos internos severos. Mesmo assim,
precisava de um médico para remover a bala e limpar a ferida que podia
infectar.
Olhou para cirna e uma figura de sotaina apareceu no pátio de
entrada e aproximou-se do portão cautelosamente — um noviço, um rapaz
de quinze anos talvez, com cara de anjo.

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